José Saramago tinha uma personalidade agressiva, um temperamento afeito ao confronto. Isso aparecia mais claramente nas entrevistas, nas quais Saramago nunca se importava de dizer coisas que pudessem ser consideradas desagradáveis pelo interlocutor. Isso podia dar na expressão de coisas que eram para ele verdades: a crítica à Igreja Católica de Ratzinger e a afirmação da sua crença na revolução comunista. Mas também podia dar em ideias meio esdrúxulas como uma nova união ibérica com a Espanha defendida como benéfica a Portugal em particular. Na sua ficção - que pelo para mim é o que realmente importa - me parece - não sou especialista na obra dele - Saramago usava esse temperamento agressivo a favor de uma escrita sutil mas bem comunicativa e de posições políticas que não estavam ligadas ao noticiário recente.
Octavio Paz é para mim o oposto de José Saramago: sempre elegante ao ponto de parecer um sofista, sempre se esquivando da sua cumplicidade com o poder, sempre disposto a uma lógica barroca que permitisse a ele ser a favor do presidente Salinas de Gortari (metade mafioso, metade reformista neo-liberal) e contra os zapatistas e ainda posar como defensor da liberdade. Nos ensaios e mesmo na poesia de Paz esse sofismo barroco contribui para criar uma elegante cortina de fumaça que esconde um núcleo duro de vaidade e vazio, onde, por exemplo, o elogio à poesia é um elogio ao poeta e o poeta é antes de tudo Octavio Paz.
Ambos ganharam o Nobel. Que não passa do resultado da votação de uma academia de escritores e intelectuais suecos, mas que é transformado num fetiche e promove o reconhecimento internacional de quem o recebe. Eu não acredito no reconhecimento como a medida única da qualidade e importância de um artista. Acho que a história nos oferece exemplos de gente que recebe reconhecimento e gente que é ignorada sem merecer.
Comments
Prof. Farnsworth: It's a little experiment that might win me the Nobel Prize.
Leela: In what field?
Prof. Farnsworth: I don't care; they all pay the same.