A história da industrialização dos Estados Unidos é marcada pelos nomes de um bando de homens extremamente ricos, os chamados capitães da indústria e das finanças americanas: Andrew Mellon, Jay Gould, James Fisk, J.P. Morgan, John D. Rockefeller senior and junior, William H. and Cornelius Vanderbilt, William Randolph Hearst, Daniel Guggenheim, Andrew Carnegie, etc. Eles eram também chamados pejorativamente de “robber barons” (algo como barões ladrões, termo de origem incerta que alguns dizem ter se originado na Alemanha para se referir a nobres que extorquiam quem passasse pelo rio Reno), termo que ganhou grande popularidade durante a depressão que devastou a economia americana nos anos 30. Seus apologistas por outro lado inventaram o termo “industriais estadistas”, que, acredito, dispensa maiores explicações.
Essa coisa da filantropia em si é, para mim, questionável. Afinal quem defenderia em sã consciência que um sujeito expropriasse ao máximo seus empregados e clientes para depois fazer bonito distribuindo uma parte do dinheiro que ganhou e ainda abatendo tudo do imposto de renda?
Essa figura mítica do capitalismo não está confinada ao passado, mesmo porque, como eu comentei recentemente, de XIX para XXI é só deslocar o pauzinho do meio para a ponta… Nos Estados Unidos do fim do século passado apareceram Bill Gates e companhia computadorizada e figuras polêmicas como Sam Walton do Walmart. Esses novos barões do software, da internet ou do comércio globalizado vão extorquindo as pessoas com preços absurdos e reclamando da pirataria ou se aproveitam alegremente de uma ditadura que ignora direitos trabalhistas e preservação ambiental para solapar brutalmente direitos trabalhistas norteamericanos. Aproveitam-se todos eles de monopólios construídos com sanha sanguinária e defendidos com o entusiasmo frio com que as hienas defendem uma carcaça fresquinha na savana, mas esses novos “robber barons” também vivem doando milhões e milhões de suas fortunas pessoais ou de suas empresas para projetos filantrópicos quase tão ambiciosos quanto suas empresas.
E no Brasil? A industrialização brasileira produziu e agora o avanço do capitalismo financeiro talvez continue produzindo figuras semelhantes aos robber barons gringos. Só que os nossos grandes capitalistas, com uma ou outra exceção, só deixam para a posteridade uma dúzia de mansões de gosto duvidoso e excentricidades como zoológicos particulares e fazendas nababescas, além de haras na Suíça, apartamentos em Paris ou casas em Miami. Ao invés de deixarem, como seus pares americanos, seus nomes registrados para a posteridade em grandes atos de filantropia que deram nome a universidades, teatros, fundações, museus, etc, nossos barões deixam filhos ilegítimos e biografias mais ou menos escandalosas. Enquanto o senso comum se preocupa com nossa “imagem” ligada a pobres desdentados e subnutridos morando em barracos miseráveis, são esses “grandes” homens que constituem a face mais visível e chocante do nosso subdesenvolvimento.
Comments
Paulo: muitíssimo bem colocado. Diria não só nosso "subdesenvolvimento", mas nossa condição colonial. Muito nesse país se reclama da classe política, mas dessa outra "erva daninha", os empresários, não se fala nada. Só para citar um exemplo mais ou menos recente: durante a última eleição pra presidente, a rede Globo fez uma matéria sobre o desperdício de dinheiro público nas licitações. Alguma palavra sobre os cartéis? Sobre como as empreiteiras fazem sistema de rodízios das grandes obras? Quando a Petrobrás anuncia ajuste no preço do petróleo, a mídia faz um chiaço. Quase nunca diz nada a respeito dos cartéis de postos de combustíveis existentes em quase todo o Brasil. Abração