Há quinze anos atrás 19 sem-terra foram mortos e 70 ficaram feridos numa ação executada pela PM, ordenada pelo governador e pelo secretário de segurança do Pará. A maioria dos 19 mortos foi fuzilada sumariamente depois do confronto, às vezes com requintes de crueldade.
Quinze anos depois os dois comandantes que ensanduicharam os manifestantes numa rodovia onde protestavam, o coronel Mário Pantoja e o major José Maria Pereira aguardam em liberadade o resultado de recurso contra sua condenação a 228 e 154 anos de prisão.
Quinze anos depois Paulo Sette Câmara, secretário de segurança que autorizou “usar a força necessária, inclusive atirar”, escreve artigos edificantes com trechos como esse:
É possível agir com as armas do bem, através do voto, das manifestações populares pacíficas (como a dos cara-pintadas e das diretas já), ou através da mobilização da mídia. É tempo de advertir os governantes e congressistas que seu múnus público e popularidade são transitórios e que os cidadãos detêm o poder de mudá-los. O fato é que, sem pressão da sociedade, não há perspectiva de mudanças. E a pressão é um instrumento legítimo e democrático que já foi colocado em prática com sucesso. Só não se deve ceder à tentação de utilizar a violência ou estimular o retrocesso institucional.
Almir Gabriel, saiu do PSDB e do Pará por desavenças sobre a última eleição para governador. quanto foi preterido no partido.
Não cabe a mim aqui afirmar que os dois teriam responsabilidade. Quem teria a responsabilidade de julgá-los seria a justiça, e isso não aconteceu. Dois promotores que defenderam investigar a responsabilidade do governador e do secretário foram afastados pelo então Procurador-Geral de Justiça. Nomeado Secretário Especial de Defesa Social no segundo mandato de Almir Gabriel, Manoel Santino Nascimento Júnior teve a honra também de ignorar as dez representações que o Ministério Público fez dando conta das ameaças à freira Dorothy Stang, que foi assassinada no mesmo Pará em 2005.
Quinze anos depois Manoel Santino continua trabalhando como procurador no Pará.
Quinze anos depois Andrelina de Souza Arújo, mãe de sete filhos e viúva do sem-terra João Rodrigues de Araújo, recebe um salário mínimo de pensão e divide com oito filhos e netos um lote.
“Lá no lote não tem nada. Não tem estrada, não tem nem vicinal. No inverno eu saio para não morrer afogada.”
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