Dois trechos de entrevista para O Globo dada por Luciana Villas-Boas, cuja saída da Record é um importante sinal da internacionalização do mercado editorial brasileiro:
"Já constatei também que há grande interesse no exterior pelo que vier a sair do Brasil, desde que passemos a oferecer uma ficção de qualidade, mas legível por vários níveis de público, e não apenas a literatura chamada transgressora, ou metalinguística, que seja só experimentação formal — sem história, sem personagens ricos e complexos, sem carne, sem sangue. Isso, que já fizemos, enterrou e cria ainda obstáculos para a entrada do livro brasileiro no mercado internacional."
“Os grandes grupos editoriais estrangeiros estão enlouquecidos com a perspectiva de entrar num mercado com o potencial de expansão como o nosso. Um dos raros países que estão crescendo, uma nova classe média se formando, a consciência da necessidade da leitura se alastrando, os dirigentes finalmente entendendo que não dá mais para postergar a questão da educação no Brasil, sob o risco de comprometer todo o projeto de desenvolvimento. A entrada desses grupos pode ser muito positiva para profissionalizar o setor, estimulando a concorrência entre os editores. Há um mercado lá fora que recebe notícias positivas sobre o Brasil e tem o sentimento de que não nos conhece. Se oferecermos uma ficção que dê uma visão da nossa história, da nossa psique, como faz por exemplo a obra do Edney Silvestre, vamos arrebentar no mercado externo.”
Junte a ênfase no enredo e em personagens literários com “carne e sangue” [o uso do termo já diz muito mas não vale nem a pena] e a ausência de transgressão ou encheção de metalingüística e temos o quê? Em outras palavras, se um Guimarães Rosa do século XXI escrevesse um Grande Sertão: Veredas do século XXI teria que bater à porta de uma editora procurando uma versão light do romance do século XIX.
Mas não é só isso.
Também precisamos de oferecer aos gringos sedentos “uma visão da nossa história, da nossa psique”. Em outras palavras, para melhor se vender, nada melhor do ser… nacionalistas, à moda Getúlio, suponho.
Acrescente-se a isso que Luciana Villas-Boas pretende pagar as contas mesmo vendendo traduções para o “suculento” mercado brasileiro. Nada de muito transgressor ou metalingüístico, imagino, e oferecendo à nova classe média um retrato da “história e da psique” de algum país estrangeiro? Bom, digamos que os autores do primeiro mundo têm outras funções, menos especializadas…
Comments
Melhor dizer de cara, né?
Em vez de manter a pose de que apoia a "grande literatura".
Por causa de internet e etc, ou um motivo mais cultural?
Disso resulta então que o mercado de literatura hoje é o mesmo do que nos anos 50?
Uma editora de qualidade hoje pode ter o mesmo tamanho do que tinha meio século atrás.
Ainda assim, no Brasil aparecem pequenas editoras, algumas vezes dedicadas a apenas um tipo de literatura, que sobrevivem do boca a boca, das mídias sociais e de estratégias de vendas e distribuição bem particulares.
Todo este movimento no mercado editorial brasileiro já ocorreu em tempos passados nos EUA, a grande diferença é que aqui o crescimento literário está surgindo juntamente com a internet e os livros digitais. O que vem a seguir?
Tudo o que foi falado na entrevista me parece conversa para boi dormir. O que ela realmente quer e ganhar dinheiro com o crescimento do nosso mercado; o resto é balela.