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Recordar é viver: poema de Francisco Alvim

AQUELA TARDE


Disseram-me que ele morrera na véspera.

Fora preso, torturado. Morrera no Hospital do Exército. O enterro seria naquela tarde.

(um padre escolheu um lugar de tribuno.

Parecia que ia falar. Não falou.

A mãe e a irmã choravam.)


Passatempo, 1974

Comments

Anonymous said…
Minha mãe descreve situações parecidas vividas na adolescência dela. Pessoas conhecidas na cidade que simplesmente sumiam e do dia do sumiço em diante não se pronunciava mais seus nomes. Meu trabalho de conclusão de curso (na História) começou com um outro assunto e acabou descambando pra acontecimentos desse tipo. Eu estava usando a metodologia da história oral e nos relatos que eu colhia muito mais me interessavam os silêncios.
Não fui muito apoiada pela instituição na qual eu estudava e tive que voltar à ideia original. Mas ficou a vontade de continuar investigando os silêncios um dia. Quem sabe.
Beijos,
Tata.
Olha, Tata, a idéia é muito de observar os silêncios [e as lacunas] é bem interessante, se eu entendi o que vc propôs direito. Tenho a sensação de que falta isso, por exemplo, na análise dos filmes brasileiros sobre a ditadura. Concentram-se demais nas coisas que o filme incluiu mas tem um mundo de significado nas coisas que o filme escolheu não incluir.
Anonymous said…
A ideia era me concentrar nos 'não ditos' dos relatos sobre a época escolhida. A pessoa não citada, o caso contado pelo ressentido da turma que não constava nas falas dos outros, o político não citado, o benfeitor não mencionado, etc. E daí adentrar nos discursos emitidos de dentro do recorte temporal. Os locais (numa perspectiva micro) que eu tentava encontrar nos jornais antigos da minha cidade e os nacionais (os do livro de história). O problema era que, no caso do meu objeto de estudo, os 'não ditos' convergiam para um ponto escuro que não convinha clarear.
Tata.
Excelente ideia. Pq nao gostaram?
Anonymous said…
O ponto escuro que não convinha clarear era uma certa quantia vinda de Brasília, durante o ano de 1968, para ser dividida entre a instituição na qual eu estudava, meu objeto de estudo (um movimento estudantil de cidade pequena que se dizia de esquerda mas tinha ligações institucionais com a Arena)e um clube de futebol de várzea. Botei a mão em vespeiro na maior inocência. Como todo mundo hoje em dia nega um dia ter apoiado o governo ditador, quase que nem formo. rs...
Tata Marques (do ex-extras e ordinárias)
Tristemente típico, Tata. Quem sabe vc desenvolve este projeto de outro lugar?
Anonymous said…
Quem sabe.

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