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Saquaremas e Luzias

[Legenda: "Então a gente combina assim: você fica com o senador e eu fico com o ministro."]


Um certo sábio disse no século XIX que no Brasil não havia nada mais parecido com um conservador que um liberal no poder. No século XXI a sofisticação desse sistema chegou a tal ponto que o Lobão senador do PFL de ontem é o Lobão ministro do PMDB de hoje. Enquanto as diferenças políticas se cancelam e se fabricam ao sabor das conveniências, tudo acaba ficando mais ou menos no ponto em que sempre esteve e a roda da história parece mais um cachorro correndo atrás do próprio rabo – seja com “pibão” ou com “pibinho”.


Acho que hoje em dia esse é um fenômeno mundial e os exemplos são tantos que ando suspeito de ter contraído algum tipo de paranóia transmitida pela água em New Haven. Afinal, em vários aspectos, nada mais parecido com Bush do que Obama no poder, vide a concentração de renda, a política externa, as int

ervenções militares, o terrorismo de estado, Guantánamo e o tratamento policial aos imigrantes ilegais.

[Legenda: "Então toma o controle remoto dos aviões-robô e as chaves de Guantánamo, ok?"]


Afinal, nada mais parecido com o PP do que o PSOE no caso da Espanha: de Aznar a Zapatero de volta ao PP com Rajoy, de modelo mundial de capitalismo a inferno do desemprego estagnado, nada mudou substancialmente.



[Legenda: "Olha, Zapatero, se o pessoal ficar reclamando do desemprego, você fala que vai mandar os sujeitos para o Afeganistão e pronto".]

Afinal nada mais parecido com os conservadores britâncicos no poder agora do que o neo-católico Tony Blair com seus discursos de eficiência gerencial e acoplamento estrito ao Estados Unidos na política externa.

Afinal, no México nada mais parecido com um governo do PRI do que um governo do PAN e aqui está a prova: processo politico corrompido e fraudado, dirigido aos trancos e barrancos na base do caciquismo, apenas agora com um saborzinho carola. 30 mil mortos depois, o PAN quer mais seis anos de poder, mesmo depois de ter roubado a eleição passada.

Aos que ainda estranham a apatia, eu pergunto: que sentido podem ter eleições que só apontam para continuidades no essencial e mudanças cosméticas?

Comments

José Roberto said…
Paulo,

Proponho identificar um liberal e um conservador? Quem é direita, centro ou esquerda? Será o Kassab um visionário quando fundou o PSD?

Abs
Na verdade, Zé, por trás da aparência de simetria, há um jogo que pende apenas para um lado. Assim, o moderadíssimo Obama é acusado de socialista por oferecer um sistema de saúde que é fundamentalmente republicano e por continuar com um programa de socialização de prejuízos começado no governo Bush. A verdade é que um breve olhar sobre o governo que fez o próprio Reagan nos revelaria um governo completamente inaceitável para os padrões do partido republicano de hoje. A verdade é que um luzia governa como um saquarema e um saquarema governa como um super-saquarema. A verdade é que um sujeito como José Serra, que começou sua carreira política como líder estudantil perseguido pela ditadura militar, usa em campanha o termo "república sindical", que ele tomou emprestado das gralhas que imploravam pela intervenção dos militares em 1964. A verdade é que nos dias de hoje um eleitor de esquerda fica quase forçado a aceitar um governo que ofende seus princípios quase diariamente porque a única opção é um governo de direita que promete fazer pior ainda. No caso espanhol, ele enche o saco e fica em casa e ganha a direita; no caso americano, vamos ver o que acontece.
José Roberto said…
Paulo,
Ao sabor do vento os políticos vão mostrando sua verdadeira identidade. Que beleza o discurso anti-imigração e nacionalista do Sarkozy: "Povo da França, me ajude! Me ajude a construir a França!" Como assim???? De que povo ele está falando? Ajudar você a construir a França? No fundo ele quer dizer: Vocês, legítimos franceses, me ajudem a reconstruir a França sem este povinho sujo e pobre que toda hora invade as nossas terras. Isto apenas reforça o que estamos discutindo.
Abs
Pois é, os discursos podem ser vazios, mas os atos ainda estão cheios de significado, prontos para serem interpretados.

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