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Tirando leite de pedra


Duas passagens de um ensaio curto no qual Edgar Allan Poe discorre sobre decoração de interiores em 1840:

“We have no aristocracy of blood, and having therefore as a natural, and indeed as an inevitable thing, fashioned for ourselves an aristocracy of dollars, the "display of wealth "has here to take the place and perform the office of the heraldic display in monarchical countries.”

“It is an evil growing out of our republican institutions, that here a man of large purse has usually a very little soul which he keeps in it. The corruption of taste is a portion or a pendant of the dollar-manufacture. As we grow rich, our ideas grow rusty.”

O artigo, cheio de dicas sobre como decorar a moda dos vitorianos, é uma mostra do estranho gênio de Poe.

Comments

Anonymous said…
Eu encontrei este artigo há muitos anos numa coletânea antiga de textos dele, traduzidos no Brasil.

Achei curioso.

Muitos professores usam o texto "Filosofia da composição" em aulas de escrita criativa. Estranhei quando vi essa "Filosofia do mobiliário".
sabina said…
OBS: esqueci de assinar o comentário anterior.
Sabina, feliz aniversário!!! Me incomoda o jeito meio ahistórico e baba-ovo que algumas pessoas teimam em ler gente como Poe [Baudelaire, Mallarme e Co.]; espero que não seja o caso dos "muitos professores"!
Sempre gosto do Poe (e já que citou Baudelaire] pela curiosa demostração de capacidades que ele exibe em seu texto. Soa para mim mais ou menos assim:
Ele pode ser qualquer um, MAS escolheu ser ele mesmo.
Acho que isso conta muito no momento em que ele vivia. Ele podia ter se tornado apenas mais um (bêbado, perdulário, jogatinoso*...) no meio de seus pares...
Sem dúvida, Mateus. Gosto muito de Poe tbm. Só que as coisas que ele fazia e falava ficam até mais interessantes dentro do contexto em que ele viveu. Não sou dos que acham que um texto "datado" é um texto inútil. Os textos frequentemente mostram suas "rugas" e nem por isso deixam de ser importantes.

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