Eu me aborreço rápido com a adoração que muitas pessoas têm
por figuras como Baudelaire, Mallarmé, Proust, Pound, Eliot, Joyce, etc. Esse
negócio de ficar rezando num panteão de santos padroeiros da literatura, mesmo
que eles sejam um doidão como Rimbaud ou Bukowski, é muito chato e às vezes
francamente ridículo. Mas eu me calo – em público – porque não acho justo com
todos esses defuntos que geralmente não tem culpa nenhuma. Aviso isso antes de
começar uma série sobre um desses santos, talvez pela obra dele ser tão anti-panteão.
Joyce e o amor:
Joyce era um apaixonado que escreveu grandes cartas para
Nora, com quem teve dois filhos. Algumas dessas cartas são chamadas de
pornográficas e outras não. Bom, o próprio Ulysses
ficou proibido na Inglaterra e nos Estados Unidos por mais de dez anos por
ser um livro pornográfico e portanto não me perguntem como é que separam as cartas
das cartas de amor. O famoso Bloomsday, o 16 de junho de 1904 que Joyce
escolheu para o Ulysses, foi o dia em
que os dois saíram juntos pela primeira vez e ele descreve o encontro numa
carta maravilhosa:
“I was not I who touched you long ago at Ringsend. It was
you who slid your hand down down inside my trousers… and frigged me slowly
until I came off through your fingers, all the time bending over me and gazing
at me out of your saintlike eyes.” Em bom português: o mundo inteiro hoje
comemora o dia em que Nora bateu punheta para Joyce! Anos depois ele ainda se
referia a ela assim, “I thought of one who held me in her hand like a
pebble, from whose love and in whose company
I have still to learn the secrets of life.”
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