Um dos lances mais ousados [até hoje] de América Latina: Males de Origem é quando Manoel Bonfim enquadra a independência brasileira como mais uma independência latino-americana. O padrão delas todas é a preponderância do que ele chama de "elemento refratário" e compara aos dentes do parasita colonial que permanecem agarrados ao corpo dos novos países.
"Fez-se a independência da colônia exclusivamente
para os refratários. No momento, toda a separação se reduziu a substituir o
título do chefe do governo – não é mais rei, é imperador; a nação passa a ter
uma Constituição sua, copiada da antiga, copiada pelo próprio imperante, eterno
distribuidor de constituições; deram-lhe um parlamento seu, que o monarca
dissolveu quando quis; e fez-se tornar a Portugal alguns centos de soldados.
Tudo mais aqui fica: “todas as pessoas de ordem civil, eclesiástica
e militar que a
corte portuguesa deixou no Rio de Janeiro
ocupando os altos cargos”. A mesma máquina administrativa, com os mesmos
processos, e privilégios, e parasitas; os mesmos costumes, e até a mesma
freguesia financeira – a Inglaterra. “Todos os partidos se tornaram
separatistas; tornaram–se brasileiros todos os empregados públicos, magistrados
dos tribunaissuperiores e outros...” [179]
Bonfim explica a preponderância desses refratários na América Latina ao conservadorismo [que ele chama de "conservantismo"] que é um comportamento preponderante de uma relação parasitária. O parasita, que domina a relação, deseja ardentemente que tudo se mantenha como está.
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