"Quando é que o Brasil entrou a ser
verdadeiramente autônomo?... Quando, ameaçando separar-se, forçou a metrópole a
abolir estancos e reduzir quintos, ou quando abrigou a corte, foragida da metrópole?
Quando entrou em relações com o mundo na qualidade de reino soberano, aberto ao
comércio de todas as nações; ou quando, partindo daqui o rei e a corte, passou
a ter um governo à parte? Quando Barata e seus
companheiros gritavam os nossos direitos no
recinto das cortes portuguesas, ou quando o príncipe, chefe do governo aqui,
desobedecia formalmente às injunções da metrópole? Quando o chefe do Estado
houve de desistir da coroa portuguesa, ou quando, apesar disto, o forçaram a
deixar o Brasil?... Qualquer desses momentos foi mais decisivo para a
independência do que essas datas, que a história oficial consagra – o gesto
ridículo do Ipiranga, ou a assinatura do tratado mediante o qual o Brasil pagou
à antiga metrópole a
importância dos tributos, que ela já não
podia cobrar diretamente, em troca de um reconhecimento de que ninguém carecia."
Manoel Bonfim, 1905
América Latina: Males de Origem [177-178]
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