Skip to main content

Admirável velho mundo novo


De camisa azul, o neo-liberalismo; de cabelo comprido o neo-positivismo; e de blusa azul escura, o neo-fundametalismo religioso. Obviamente os três estão com pressa e uma baita fome de cérebros. Não sei se a foto foi tirada em Bagdá ou em Nova Iorque. Talvez em São Paulo.



Os Anglicanos, claro, não têm Papa, aquele tal infalível. Eles têm Rowan Williams, o bispo Anglicano chefe. Ele anda tentando lidar diplomaticamente com grupos da sua igreja na Inglaterra que ameaçam ir embora para a Igreja Católica. A causa desse motim religioso é a ordenação de "bispas" na Igreja Anglicana Inglesa. Ratzinger, o infalível de Roma fez a gentileza de convidar publicamente os rebeldes para "voltar" ao manto de Roma, onde mulheres nunca vão além de freiras.

Numa entrevista Rowan Willians, que é também teólogo, fez a seguinte reflexão:

"One of the odd things about fundametalism in its American form, but not exclusively, is that it's paradoxically a very modern thing. A crude 19th century reaction to a crude 19th century scientism - a kind of mirror image of that positivist yes-or-no knowledge that you can pin down."

São os mortos-vivos do século XIX: o cientificismo revivido na fé cega no DNA como explicador de tudo e na química como cura potencial de todos os males, inclusive os sociais. O fundamentalismo religioso que pretende também oferecer respostas finais sobre todos os aspectos da vida. O aspecto regressivo é o elo entre o conservadorismo ultramontano e a ciência de corte positivista que atribui tudo ao código genético e inspira muitos ateus militantes. Ambos estão em alta nesse nosso novo século, formas religiosa e laica do mesmo fanatismo. Ambos vivem ainda amarrados como gêmeos siameses a um terceiro filhote do século XIX também ressuscitado no final do século passado: o liberalismo econômico, chamado de neo-liberalismo. E nem adianta fugir para as montanhas, por já dinamitaram quase todas procurando minério de ferro e carvão e as que sobraram estão ocupadas com retiros espirituais de renovação da fé.

Comments

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...