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Um alô dos mortos!

A morte prisioneira prepara-se para sair...

Esta aí embaixo é a primeira parte de "Muerte sin fin" de José Gorostiza. É um dos melhores poemas do século XX para mim. Não deve absolutamente nada a T.S. Eliot e outros congêneres, mas é quase desconhecido no Brasil. Porque? Pelo mesmo motivo que "A máquina do mundo" é quase desconhecido fora do Brasil. Antes de reclamar da mentalidade colonizada do resto do mundo, eu acho que é melhor a gente cuidar de combater a nossa própria. Além do mais, o que somos enquanto vivos senão uns sacos de água esperando o dia de se esvaziar? Somos o saco? Somos a água?

I

Lleno de mí, sitiado en mi epidermis
por un dios inasible que me ahoga,
mentido acaso
por su radiante atmósfera de luces
que oculta mi conciencia derramada,
mis alas rotas en esquirlas de aire,
mi torpe andar a tientas por el lodo;
lleno de mí -ahíto- me descubro
en la imagen atónita del agua,
que tan sólo es un tumbo inmarcesible,
un desplome de ángeles caídos
a la delicia intacta de su peso,
que nada tiene
sino la cara en blanco
hundida a medias, ya, como una risa agónica,
en las tenues holandas de la nube
y en los funestos cánticos del mar
-más resabio de sal o albor de cúmulo
que sola prisa de acosada espuma.
No obstante -oh paradoja- constreñida
por el rigor del vaso que la aclara,
el agua toma forma.
En él se asienta, ahonda y edifica,
cumple una edad amarga de silencios
y un reposo gentil de muerte niña,
sonriente, que desflora
un más allá de pájaros
en desbandada.
En la red de cristal que la estrangula,
allí, como en el agua de un espejo,
se reconoce;
atada allí, gota con gota,
marchito el tropo de espuma en la garganta
¡qué desnudez de agua tan intensa,
qué agua tan agua,
está en su orbe tornasol soñando,
cantando ya una sed de hielo justo!
Mas qué vaso -también- más providente
éste que así se hinche
como una estrella en grano,
que así, en heroica promisión, se enciende
como un seno habitado por la dicha,
y rinde así, puntual,
una rotunda flor
de transparencia al agua,
un ojo proyectil que cobra alturas
y una ventana a gritos luminosos
sobre esa libertad enardecida
que se agobia de cándidas prisiones!

O resto do poema está aqui.

Comments

Anonymous said…
Ei! Esta foto estah incompleta!!!
Hora eu não quero expor os outros que estão sem máscaras protetoras.
Querida Anônima!

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