Eu sou
cético com relação a grande maioria dos movimentos por comida orgânica e coisas do tipo aqui nos Estados Unidos. O
motivo é simples: eu já vivi aqui em grandes e pequenos apertos financeiros
e já senti na pele o que é ter que comprar as verduras e legumes “normais”
porque os orgânicos são consideravelmente mais caros e “preferir” o cachorro
quente malhado da lanchonete da esquina porque o almoço saudável na rua era simplesmente inviável
para o meu bolso. Nos EUA o MacDonalds não é popular só por marketing e disponibilidade; um sanduiche de peito de frango e um café grande custam um dólar na lanchonete do palhaço. Enfim, mesmo que não seja intencional, há um conteúdo
elitista, meio esnobe, que eu não gosto, principalmente quando as pessoas
querem me fazer acreditar que estou “mudando o mundo” por comprar comida excelente [mas caríssima] no
“farmer’s market”. Daí a minha série “Biroscas de New Haven” se concentrar
naqueles lugares que oferecem comida deliciosa mas também honesta, ou seja bem barata e sem fru-fru
gourmet.
Mas hoje
decidi incluir na série uma semi-birosca: o supermercado/farmácia homeopática café/restaurante
vegetariano Edge of the Woods. Porque
pelo menos aqui - escrevo do lugar - a pizza kosher na quinta-feira, os sucos com nomes como “Picasso’s Potion”
e saladas de Tofu ou húmus não significam pagar o dobro dos Dunkin Donuts da
vida e porque a comida é boa e honesta. Edge
of the Woods está cravado numa região de New Haven que muitas pessoas acham
“barra pesada”, na Whalley Avenue; portanto uma região [até hoje pelo menos]
imune a transformação de botequim em boutique que afeta, por exemplo, vastas
regiões da zona sul de Belo Horizonte. Nessa injustamente mal-falada região
está também meu bairro, que não tem nada de "barra pesada", aliás. Então o Edge of the
Woods é para mim a padaria/café do bairro. Aqui eu venho pelo menos uma vez
por semana tomar café e trabalhar, tentando resistir bravamente aos scones fresquinhos da padaria com um belo
balde de café fresco, espiando o movimento da rua com bandos de pardais
ciscando na triste grama do inferno, digo inverno, e GENTE andando na rua, um
fenômeno algo raro nos Estados Unidos.
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