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“… os melhores escritores
se encontram anonimamente
enfiados nas cozinhas do mundo,
cheirando a alho e cebola,
escrevendo com uma outra linguagem.”
Raduan Nassar
Vamos, por favor,
deixar de fingir
que sabemos com certeza
o que é um poema,
que temos meios
de reconhecer
o que é um poema
e que ainda por cima
temos o direito
de chamar qualquer poema
de “poema novo”.
Por favor, lembremos
que um poema não precisa
nem de tinta e papel,
muito menos versos
ou “tensão”, ambiguidade,
“vontade de experimentação”
ou “pesquisa de linguagem”,
assim como um poema
nunca precisou
de “expressão autêntica”
ou do que quer que se engendre
numa dessas bolorentas
catacumbas do saber.
Lembreme-nos sempre
que outros mamíferos
bípedes, como nós dois,
andam fazendo poemas
nesse planeta doente
há muitos milênios
e que por isso um poema
pode sempre estar além
de qualquer erudição.
Caro leitor, por favor:
ponha-se no seu lugar
e junte-se a mim.
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