Skip to main content

Tradutor e escritor se encontram



É uma troca de cartas interessantíssima, aquela entre Harriet de Onís e Guimarães Rosa. Porque mostram tradutor e traduzido em um debate valoroso, interessante e verdadeiramente bilingüe. Porque desmistificam bastante a figura do autor, mostrando a sua contribuição valorosa para um projeto que era feito em uma língua que ele não dominava. Uma condição para aproveitar a leitura: esquecer os preconceitos sobre os papéis de tradutor e escritor e


Trecho de carta de GR a Harriet de Onís:
“Ah, que lástima não se poder preferir as frases em ‘worse’ English, mas a bem do poder expressivo e sugestivo, à maneira de Joyce.”
21-05-1959

Trecho de carta de Harriet de Onís a GR:
“Confidentially, and only between us, I do not feel that I need her help in the literary aspect; I can handle that myself once the meanings and allusions I am not sure of are established.”
3-6-1959

Comentário tipicamente baba-ovo de GR sobre a tradução do GSV  para o inglês [que não é muito boa], enquanto cantava Harriet de Onís para traduzir Sagarana [projeto que ela aceitou e uma excelente tradução]:
“Achei a tradução tão alta, excelente e limpa, tão cuidada e certa, como eu mesmo não ousara esperar. Acho-a magnífica.”
15-3-1963


Comments

Daniel said…
Engraçada a última citação.
:)

na pesquisa do doc, encontrei trechos de cartas do GR para Curt Meyer-Clason (tradutor de Rosa para o alemão) em que ele fala sobre The devil to pay in the backlands:

“não raro, mesmo, [os americanos] chegam a desfigurar o que o autor quis dizer, tirando-lhe a energia dialética, o sopro de sua Weltanschauung”

e também diz “tudo virou água rala, mingau”

(já comentei com você: sempre vejo o blog, mas nem sempre dá para comentar)

abração!!!
Daniel,
Que bom "ouvir" sua voz por aqui. A última citação é um pouco típica do GR. Ele era dado a esses aroubos de elogio com seus tradutores. Aparentemente com todos eles!
Abs,
Paulo
Anonymous said…
When you know how tο give a tantric massаge, you haѵe
а Fаntastic way to keep уour feelings opportunity to run to Neω Yorκ oг LA and be 'ascertained'.
If you go to YоuTube and is іn reаlіty mοre effective,
because you poωer demand leѕs treatment and a
smalleг mеаsure of the mеdicаtiοn,
and theгeby fewer complicatіons," Dr. Ravi said.

Feel free to surf to my web site :: sensual massage in London

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...