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Impressões sobre a passeata de campinas de quinta-feira

1. Resolvi escrever especificamente sobre o que eu vi com meus próprios olhos em Campinas, sem levar em conta nenhum tipo de análise sobre um significado maior para o que está acontecendo no Brasil. Esclareço:  falo sobre o que eu vi em Campinas na quinta-feira sem qualquer certeza de que vi ali o mesmo que está acontecendo em outros lugares do Brasil e sem qualquer certeza sobre o significado do que eu vi.
2. Vi um pequeno punhado de gente com cartazes pedindo o impeachment de Dilma. Não eram maioria de jeito nenhum, mas estavam lá. Vi um grupo com um cartaz bem grande a favor do "armamento" da população e desarmamento dos "bandidos". Uma minoria respeitável levava cartazes genéricos contra a corrupção, a favor da bondade e do amor. Vi dois cartazes claramente "evangélicos" e um punhado considerável de cartazes contra Feliciano e a "cura gay". Vi um cartaz de "menos IR" e um de "Acabem com o IPVA ou com os pedágios" e mesmo um a favor da castração gratuita de animais de estimação.
3. Só achei um lugar em que me senti à vontade, perto do aglomerado de estudantes da Unicamp que tinham cartazes e gritavam slogans com os quais eu me sentia à vontade.
4. Assisti atônito à repressão de militantes do PSTU que levantaram as suas bandeiras aos gritos de "sem partido" e "somos brasileiros". Ninguém incomoda o sujeito que pega carona no movimento para pregar o impeachment da Dilma ou mesmo sugerir saudades da ditadura, mas vão encher o saco do sujeito que resolve balançar uma bandeira vermelha?
5. Mais tarde o pau comeu, mas aí eu já não era mais testemunha ocular de nada.

Comments

José Roberto said…
O que você viu em Campinas eu também vi aqui no Rio na quinta passada. A passeata reuniu pessoas e reivindicações das mais variadas mas duas coisas eram quase unânimes: a imensa maioria dos participantes era formada por jovens e a raiva aos políticos (todos eles). Preferi ficar assistindo a passagem da passeata na praça Onze e assim fiquei como um observador. Caminhei até a prefeitura e ficou claro que iria acabar em pancadaria. A tensão era grande e juntou a fome de briga de alguns com a vontade de comer da polícia que estava esperando apenas um pretexto para sair distribuindo porrada em qualquer um.
Importante dizer que prefiro este turbilhão de ideias ao silêncio anterior. E fico rindo dos editoriais e comentaristas batendo cabeça e procurando agradar tudo e todos.
Eu também estou achando toda essa incerteza uma maravilha, comparada com a certeza de mediocridade que nos cercava antes. Ter que engolir essa copa nas costas do governo e mais um monte de infelicidades como se nada pudesse mudar estava triste demais. Não sou professor da escola pública brasileira mas o tratamento AVILTANTE dado aos professores brasileiros nos últimos dois anos só não me chocava mais que a indiferença geral para com a luta deles contra governantes cínicos que fazem campanha prometendo priorizar a educação e depois priorizam qualquer coisa antes da educação pública.
Viva a baderna!

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