Glória
da ciência nacional
Já estavam quase
aprendendo a viver
quase sem comer
quando vieram a falecer,
deixando pra trás os que,
sem poder adormecer
seus doces sonhos de consumo,
acabaram comprando
com uma arma na mão,
disposição
e uma idéia na cabeça
quatorze passos lacrimosos
até Ribeirão das Neves
onde,
antes de finalmente aprender
a ser pobre sem trauma de pobreza,
vieram a falecer.
não sem antes dar a César
o que é de César:
esse medo que move
esse ajustamento duro,
esse consenso asmático
que faz de quinhentos anos
de crassa violência
companheira nossa
diária, fiel,
nossa identidade nacional
(se tiver esôfago,
pergunte à esfinge
brasileira média
se ela não acha
que bandido bom
é bandido morto).
E enquanto isso,
uma cabeça na mão
e as idéias enterradas
na areia fresca da praia,
fazendo as pazes conosco
ou vivendo em guerra conosco,
queremos não ver
todas as vidas moídas
da cana ao açúcar duro
que adoça o café amargo
que chega sempre quentinho
logo
após a sobremesa.
Comments
Cada palavra, cada palavra me corta como faca afiada.
Bom dia e obrigada
Norma
(e isso pra mim é o mesmo que dizer "o poema está muito bom").
Tata.