Skip to main content

Trechos do Diário de Witold Gombrowicz

Estou muito, muito lentamente lendo o diário do escritor polonês Witold Gombrowicz, traduzido para o inglês Lillian Vallee e publicado em 2012. Não gosto de traduzir coisas que foram traduzidas para o inglês mas não sei dizer "oi" em polonês mas a importância dos diários de Gombrowicz para mim foi comprovada quando cruzei recentemente com referências a Gombrowicz no livro FUNDAMENTAL de Eduardo Subirats Mito y Literatura, baseado numa leitura instigante de cinco autores centrais para mim: Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Juan Rulfo, José María Arguedas e Augusto Roa Bastos. Leio os dois tão lentamente que é capaz de eu nunca chegar ao final dos dois livros, mas chegar ao final das coisas acho que nunca foi meu forte de qualquer jeito...

1953
Quarta-Feira [pg. 67]
O artista que se realiza dentro da arte nunca será criativo. Ele deve permanecer nas periferias onde a arte encontra a vida, onde perguntas desagradáveis como as seguintes aparecem: quanto da poesia que escrevo é convencional, e quanto dela é verdadeiramente real? Até que ponto aqueles que me admiram estão mentindo e até ponto estou mentindo quando me admiro como poeta?

Terça-Feira [pg. 73]
Já viveu um homem em qualquer outro lugar que não em si mesmo? Você está em casa mesmo que se encontre na Argentina ou no Canadá, porque sua terra natal não é um ponto num mapa mas a essência viva de um homem.

1954
Segunda-Feira [pg. 80]
O "eu" não é um obstáculo para estar com as pessoas. O "eu" é aquilo que elas desejam. Tenha certeza, entretanto, que o "eu" não é passado como contrabando. Se há algo que o "eu" não tolera é falta de entusiasmo, timidez, cautela.


Comments

Popular posts from this blog

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia inst...

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...