Talvez o mais importante a fazer antes de tentar escrever algo sobre o trabalho de outra pessoa seja entender como esse trabalho me afeta, entender porque ele me afeta, descobrir meu interesse ao invés de fingir que existe um desinteresse científico da minha parte. Titus Kaphar e Kara Walker são artistas contemporâneos que me interessam muito - já mencionei eles aqui brevemente. O trabalho deles me interessa porque os trabalhos dos dois têm um forte componente narrativo, porque eles trazem visibilidade e inteligência para assuntos que são ignorados tradicionalmente, porque eles falam com inteligência crítica de coisas que eu considero importantes e urgentes. Gostaria de escrever sobre eles e sobre Claudia Rankine e Robin Coste Lewis e talvez aproveite esse meu período de reavaliação das prioridades na minha vida para fazer isso. Ou talvez nada disso passe desse rascunho apressado, escrito nos Estados Unidos em português [essa língua tão "exótica"] sobre artistas estadounidenses que os brasileiros em geral não têm o menor interesse em conhecer. Que eu me dedique a rascunhos apressados então.
Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...
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