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Literatura com as palavras dos outros

Pode ser coincidência mas acho que não. Trombei com dois escritores, agora poetas, que trabalham com palavras de outras fontes: Robin Coste Lewis e Kenneth Goldsmith.

Robin Coste Lewis publicou seu primeiro livro chamado Voyage of the Sable Venus and Other Poems e o poema principal é composto de descrições de catálogos de objetos de arte onde aparecem mulheres negras. Aqui um breve exemplo tirado da resenha do livro que saiu na revista New Yorker:


Statuette of a Woman Reduced
to the Shape of a Flat Paddle

Statuette of a Black Slave Girl
Right Half of Body and Head Missing

Head of a Young Black Woman Fragment
from a Statuette of a Black Dancing Girl
O segredo claramente está no jogo de manipulação dos textos originais na página, usando o verso para enfatizar ou dar novo significado ao texto original.

Kenneth Goldsmith escreveu livros copiando coisas como todas as palavras que ele pronunciou durante uma semana, toda uma transmissão do jogo mais longo de beisebol ou um ano de previsões do tempo no rádio e recentemente se meteu numa confusão quando resolveu recitar o atestado de óbito de Michael Brown. Em outras palavras o engraçadinho se meteu com um assunto muito sério e se queimou. Muita gente que já detestava Goldsmith como um terrível perigo à poesia aproveitou-se para sentar o cacete nele, agora com a ajuda de um monte de outras pessoas indignadas com a falta de noção dele.

Comments

Incrível o efeito dos poemas sobre as estatuetas.
É um poema muito interessante, muito legal. E todo feito em cima de um outro texto. Acho bem mais interessante que as piadas do Goldsmith, que afinal são piadas com às vezes mais de 100 páginas. O ressentimento contra ele acho que tem mais a ver com o [relativo] sucesso dele - ele chegou a ir à Casa Branca com outros poetas para um tipo de "dia de celebrar a poesia". Eu acho a ideia interessante mas para ler é uma chatura, enquanto o poema dela é muito interessante.

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