Moro nos EUA e faz algum tempo e vivendo o dia a dia aqui dá para compreender com clareza que a lógica do mercado capitalista aqui é criar demandas onde elas não existiam antes, para continuar expandindo o consumo mesmo depois que todas as necessidades básicas de consumo tenham sido satisfeitas. Absolutamente TODAS as ofertas e promoções em um supermercado americano são do tipo “compre dois pelo preço de um” e se você quer [ou precisa] “economizar” tem que, paradoxalmente, comprar mais do que precisa e levar para casa dois potes de sorvete ao invés de um só; e dois frangos, dois pacotes de cereal, duas garrafas com o dobro de refrigerante, etc. Não é por nada que a obesidade é um problema nacional, mas é um problema pior entre as minorias que são maioria da camada mais pobre do país. Os ricos enquanto isso compram alimentos orgânicos, sempre mais caros e embalados em porções menores por causa do seu “valor agregado”.
O desafio para o capitalismo americano é fazer consumir [e endividar-se] uma população que já tem tudo e que já gastou tudo o que tem. Aqui quem não se endivida, se trumbica: se você nunca teve um cartão de crédito você não pode parcelar a compra de um computador – seu pedido de parcelamento é negado por falta de “histórico de crédito” [credit history]. A crise do mercado imobiliário americano está relacionado com esse processo de endividamento – muito “lógico” em curtíssimo prazo e uma completa insanidade do ponto de vista de quem pensa um pouco mais à frente. O consumidor americano é uma vaca ordenhada até a exaustão, e o pior é que o seu leite, cada vez mais ralo, é quase todo usado na compra de produtos de consumo importados, que geram renda e riqueza fora daqui, mais especificamente na China. Do ponto de vista dos “cosmopolitas de Wall Street” está tudo indo muito bem, porque suas ações se valorizam na medida em que as mega corporações transferem suas operações para a China. Um processo de concentração de renda muito “lógico”. Em uma loja do Wal-Mart, o monstro do comércio a varejo americano, quase tudo foi feito em alguma outra parte do mundo, principalmente a China e nenhum emprego ganha mais que um salário mínimo sem direito a ferias ou seguro médico. Tudo muito “lógico,” dizem eles; até que tudo desapareça de repente no ar. Essa crença fundamentalista na mão invisível do mercado, absolutamente livre para encontrar uma solução “lógica” para tudo é devastadora. Foi assim que a Inglaterra passou de império mundial a uma ilha destruída pela guerra e uma economia ultrapassada; foi assim que o desastre de 1929 atirou o mundo inteiro em uma recessão desesperadora. Ainda que um pouco de pragmatismo seja restaurado depois que Bush for embora, talvez seja tarde demais.
O desafio para o capitalismo americano é fazer consumir [e endividar-se] uma população que já tem tudo e que já gastou tudo o que tem. Aqui quem não se endivida, se trumbica: se você nunca teve um cartão de crédito você não pode parcelar a compra de um computador – seu pedido de parcelamento é negado por falta de “histórico de crédito” [credit history]. A crise do mercado imobiliário americano está relacionado com esse processo de endividamento – muito “lógico” em curtíssimo prazo e uma completa insanidade do ponto de vista de quem pensa um pouco mais à frente. O consumidor americano é uma vaca ordenhada até a exaustão, e o pior é que o seu leite, cada vez mais ralo, é quase todo usado na compra de produtos de consumo importados, que geram renda e riqueza fora daqui, mais especificamente na China. Do ponto de vista dos “cosmopolitas de Wall Street” está tudo indo muito bem, porque suas ações se valorizam na medida em que as mega corporações transferem suas operações para a China. Um processo de concentração de renda muito “lógico”. Em uma loja do Wal-Mart, o monstro do comércio a varejo americano, quase tudo foi feito em alguma outra parte do mundo, principalmente a China e nenhum emprego ganha mais que um salário mínimo sem direito a ferias ou seguro médico. Tudo muito “lógico,” dizem eles; até que tudo desapareça de repente no ar. Essa crença fundamentalista na mão invisível do mercado, absolutamente livre para encontrar uma solução “lógica” para tudo é devastadora. Foi assim que a Inglaterra passou de império mundial a uma ilha destruída pela guerra e uma economia ultrapassada; foi assim que o desastre de 1929 atirou o mundo inteiro em uma recessão desesperadora. Ainda que um pouco de pragmatismo seja restaurado depois que Bush for embora, talvez seja tarde demais.
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