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Eduardo Viotti Leão - Capítulo 1

He once called her his basil plant;
and when she asked for an explanation,
said that basil was a plant that flourished
wonderfully on a murdered man’s brains.
George Eliot

¿donde está la fuerza que causa tanta miseria?
Juan Rulfo

A chuva tinha parado. Afrouxou a gravata de seda com as mãos impecáveis, levantou-se e foi até a janela do seu escritório. Lá embaixo o vapor se desprendia do asfalto. Sozinho no céu sem nuvens o sol torrava inclemente as cabeças que passavam como pontinhos de um lado para o outro na calçada. É um problema atrás do outro, a vida. O sujeito resolve um e já fica esperando pelo próximo. Um cofre cheio, escondido há anos debaixo da sua cama de casal no apartamento de Laura, desaparecera. Seis sujeitos, vestidos com uniforme de firma de mudança, entraram no apartamento no meio da tarde quando Laura não estava e levaram o cofre numa Kombi com placa fria, que foi abandonada sem deixar vestígios em um lote vago no Céu Azul. Serviço de gente qualificada e informada.
Parado em frente à parede de vidro temperado onde a vista desimpedida da cidade se estendia até o horizonte, ajeitando os punhos da camisa, alisando com a ponta dos dedos as sobrancelhas finas e depois os cabelos grisalhos, impecáveis, Eduardo olhava as cabeças apressadas trançando lá embaixo na calçada enquanto sua atenção dispersa voltava-se à sua revelia para um passado remoto, irrelevante.

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