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No começo Otilina tentara não transparecer enfado ou irritação durante os agora intermináveis almoços de domingo. Em silêncio, assistia os filhos, a nora, o genro e os netos encadear, um atrás do outro, assuntos frívolos que não levam a lugar nenhum, só para não dar tréguas ao silêncio. Lutavam contra o silêncio para que a farsa convencional não se desmanchasse e a verdade não viesse à tona na frente de todos, com o ímpeto de um tronco que se solta de repente do fundo de um lago silencioso e salta sobre a água, furioso. Lutavam todos contra o silêncio e escondiam a solidão.
Melhor era quando eles levavam a falsidade embora com eles e Otilina podia estar sozinha,. Sozinha em casa ela podia chorar, como uma criança, pela solidão, pelo desamparo, pela crueldade da indiferença humana, pela crueldade maior da dura ausência indiferente do seu Deus naquela que era a sua hora mais difícil. Depois da constatação do estado terminal, sua desilusão se espalhava, insidiosa, em direção ao passado. Aquilo que lhe parecera serem os melhores momentos da sua vida revelavam-se agora como uma série de trivialidades quase repugnantes. A longa re-ascensão depois do “desastre” – uma sucessão ininterrupta de sucessos econômicos e manobras sociais bem sucedidas que tanto orgulho lhe tinham dado – aparecia-lhe agora de forma completamente diferente, quase o contrário: aquela tinha sido exatamente a época em que a vida deslizara-lhe sob os pés.
E apesar de tudo isso, Otilina ainda estava disposta a lutar até o fim, paciente e inflexível, contra a morte invisível e implacável que lhe comia por dentro. Mesmo sabendo que não podia vencer, que a derrota era inevitável e eminente, ela continuava a se submeter aos longos e dolorosos rituais da medicina, com a mesma paciência estóica com que se submetera aos advogados e suas misteriosas coreografias depois que o marido desaparecera de repente com o dinheiro da família.
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No começo Otilina tentara não transparecer enfado ou irritação durante os agora intermináveis almoços de domingo. Em silêncio, assistia os filhos, a nora, o genro e os netos encadear, um atrás do outro, assuntos frívolos que não levam a lugar nenhum, só para não dar tréguas ao silêncio. Lutavam contra o silêncio para que a farsa convencional não se desmanchasse e a verdade não viesse à tona na frente de todos, com o ímpeto de um tronco que se solta de repente do fundo de um lago silencioso e salta sobre a água, furioso. Lutavam todos contra o silêncio e escondiam a solidão.
Melhor era quando eles levavam a falsidade embora com eles e Otilina podia estar sozinha,. Sozinha em casa ela podia chorar, como uma criança, pela solidão, pelo desamparo, pela crueldade da indiferença humana, pela crueldade maior da dura ausência indiferente do seu Deus naquela que era a sua hora mais difícil. Depois da constatação do estado terminal, sua desilusão se espalhava, insidiosa, em direção ao passado. Aquilo que lhe parecera serem os melhores momentos da sua vida revelavam-se agora como uma série de trivialidades quase repugnantes. A longa re-ascensão depois do “desastre” – uma sucessão ininterrupta de sucessos econômicos e manobras sociais bem sucedidas que tanto orgulho lhe tinham dado – aparecia-lhe agora de forma completamente diferente, quase o contrário: aquela tinha sido exatamente a época em que a vida deslizara-lhe sob os pés.
E apesar de tudo isso, Otilina ainda estava disposta a lutar até o fim, paciente e inflexível, contra a morte invisível e implacável que lhe comia por dentro. Mesmo sabendo que não podia vencer, que a derrota era inevitável e eminente, ela continuava a se submeter aos longos e dolorosos rituais da medicina, com a mesma paciência estóica com que se submetera aos advogados e suas misteriosas coreografias depois que o marido desaparecera de repente com o dinheiro da família.
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