Curioso como a gente pode fazer um paralelo com o blues e o jazz nos Estados Unidos e o Samba no Brasil. Inicialmente consideradas música “selvagem” ou “primitiva” e relegadas a espaços marginalizados, essas expressões musicais “renascem” [aspas porque nunca morreram, só foram varridas para baixo do tapete] com músicos e cantores brancos, gerando lucros fantásticos para uma nascente indústria da música e do entretenimento. E o que era “aviltante” e “tosco” de repente vira “charmoso”, “chique” e até reconhecidamente sofisticado. Músicos e cantores, brancos, ingleses e norte-americanos de classe média, que se apaixonaram pela música negra americana não são culpados; e foram eles foram até responsáveis por ajudar a resgatar da miséria os mestres do blues americano e levá-los, às vezes pela primeira vez, a um registro em estúdio com condições minimamente decentes. No Brasil devemos a essa redescoberta os sensacionais discos do Cartola. O problema é um processo que se repete no Brasil: quando o partido chamado de pagode explodiu no Brasil, muita gente da elite branca torcia o nariz e dizia que aquilo era, ironicamente, um samba degenerado. Vinte anos depois Zeca Pagodinho virou “chique”? A verdade é que as pessoas ainda hoje mascaram como julgamentos estéticos os seus preconceitos de classe e raça. Julgam a qualidade da música como um produto que se julga pela embalagem ou pelo rótulo: principalmente pelo lugar de onde ela aparenta vir e pela aparência de quem a produz. Não é por nada que os cantores sertanejos vivem produzidos, disfarçados na medida do possível de uma classe social e de um grupo étnico que não é o deles – disfarçados de elite branca eles passaram a ganhar muito mais dinheiro, com a mesma música que faziam antes [para mim uma bela porcaria na maioria das vezes], só que agora com o “valor agregado” da “boa aparência”.
Curioso como a gente pode fazer um paralelo com o blues e o jazz nos Estados Unidos e o Samba no Brasil. Inicialmente consideradas música “selvagem” ou “primitiva” e relegadas a espaços marginalizados, essas expressões musicais “renascem” [aspas porque nunca morreram, só foram varridas para baixo do tapete] com músicos e cantores brancos, gerando lucros fantásticos para uma nascente indústria da música e do entretenimento. E o que era “aviltante” e “tosco” de repente vira “charmoso”, “chique” e até reconhecidamente sofisticado. Músicos e cantores, brancos, ingleses e norte-americanos de classe média, que se apaixonaram pela música negra americana não são culpados; e foram eles foram até responsáveis por ajudar a resgatar da miséria os mestres do blues americano e levá-los, às vezes pela primeira vez, a um registro em estúdio com condições minimamente decentes. No Brasil devemos a essa redescoberta os sensacionais discos do Cartola. O problema é um processo que se repete no Brasil: quando o partido chamado de pagode explodiu no Brasil, muita gente da elite branca torcia o nariz e dizia que aquilo era, ironicamente, um samba degenerado. Vinte anos depois Zeca Pagodinho virou “chique”? A verdade é que as pessoas ainda hoje mascaram como julgamentos estéticos os seus preconceitos de classe e raça. Julgam a qualidade da música como um produto que se julga pela embalagem ou pelo rótulo: principalmente pelo lugar de onde ela aparenta vir e pela aparência de quem a produz. Não é por nada que os cantores sertanejos vivem produzidos, disfarçados na medida do possível de uma classe social e de um grupo étnico que não é o deles – disfarçados de elite branca eles passaram a ganhar muito mais dinheiro, com a mesma música que faziam antes [para mim uma bela porcaria na maioria das vezes], só que agora com o “valor agregado” da “boa aparência”.
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