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Saudades de Belo Horizonte (desde muito longe)

“- Dói muito?
- Muito, Doutor. Dói demais.
Tem um país saindo de dentro de mim
e não entra nada no buraco que fica
latejando, velando minha insônia,
pedindo não sei bem o quê.
E não há tango argentino que resolva, Doutor.
Nem o tango argentino me resta.”

O melhor texto que eu já li passou ali
na minha frente quando eu nem esperava
nem queria. O capricho das palavras,
os caprichos da poesia, como os de Goya,
caindo de fora de dentro do meio
pediam pelo silêncio sutilmente histérico
da cidade que é a minha casa.
Ela é que me faz falta.

O resto é um outro silêncio que me abraça
cada vez que eu encaro duro o fato
de que o ser humano
humano mesmo como a imaginação humana
concebe nesse sonho que é a vida não existe –
o ser humano de fato é assim,
que nem eu:
o ser humano mesmo
não passa mesmo
de um negocinho muito besta.

[esse é um poema já meio velho escrito de um outro momento de exílio e é estranho para mim relê-lo agora que estou de volta mais uma vez por apenas um par de meses a Belo Horizonte]

Comments

Unknown said…
olá paulo,
passei por aqui.

legal o blog. bastante literário.

um abraço,
victor.
Obrigado, Victor, seja benvindo.

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