Skip to main content

Coração de Cachorro



[Esse post eu dedico para nosso querido Totó, atualmente vivendo em um sítio muito, muito longe daqui.]
Cachorros são sobreviventes natos, acima de tudo. Eu adoro um romance de um russo [Bulgakov] chamado "Heart of a Dog" [não sei se foi traduzido para o português] que ele abre com a "voz" de um cão abandonado nas ruas de Moscou no inverno. Um cozinheiro tinha jogado água fervendo para espantar o pobre do cão e uma hora o cão diz assim:
"My side hurts dreadfully, and I can see my future quite clearly: tomorrow I’ll have sores, and, I ask you, what am I going to cure them with? In summertime, you can run down to Sokolniki Park. There is a special kind of grass there, excellent grass. Besides you can gorge yourself on free sausage ends. And there’s the greasy paper left all over by the citizens – lick it to your heart’s content! And if it weren’t for that nuisance who sings “Celeste Aida” in the field under the moon so that your heart sinks, it would be altogether perfect. But where can you go now? Were you kicked with a boot? You were. Were you hit with a brick in the ribs? Time and again. I’ve tasted everything, but I’ve made peace with my fate, and if I’m whining now, it’s only because of the pain and the cold – because my spirit hasn’t yet gone out of my body…. A dog is hard to kill, his spirit clings to life."

Comments

Anonymous said…
Pedacinho d´"A Esperança" do Maiakóvski:
(...)
Vejamos... Amo também os bichos -
vós os criais,
em vossos parques?
Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
Basta-me ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,
um verdadeiro vira-lata!
e no entanto,
por ele,
arrancaria meu próprio fígado:
e toma, querido, sem cerimônia, come!
Anonymous said…
Pedacinho d´"A Esperança" do Maiakóvski:
(...)
Vejamos... Amo também os bichos -
vós os criais,
em vossos parques?
Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
Basta-me ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,
um verdadeiro vira-lata!
e no entanto,
por ele,
arrancaria meu próprio fígado:
e toma, querido, sem cerimônia, come!
Você já leu "Argo e seu dono"?
É do Svevo, não é? Onde é que eu encontro?

Popular posts from this blog

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia inst...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...