Lembra que a gente alugou o apartamento no centro achando que assim não ia ter essa onda de cidade pequena? Belo Horizonte naquela época devia ser a maior cidade pequena do mundo – talvez ainda seja, não sei. Lembra quando a gente foi tentar alugar um apartamento na Lagoinha, perto da Rua Itapecerica? Logo os moradores e depois a rua inteira estavam ali, olhando e comentando enquanto a gente conversava com o corretor na saída do prédio. Então a gente acabou alugando aquele dois-quartos no centro, lembra? A história inventada saiu decorada na ponta da língua, cada hora um dos dois falando um pedaço, detalhes nem demais nem de menos, um sempre completando o outro: Viemos estudar. Vestibular no fim do ano. Engenharia, os dois. Cursinho intensivo. Do norte, bem para lá de Diamantina – São João. Primos.
E aí então foram 40 dias trancados lá dentro daquele apartamento quase vazio, com todas as janelas fechadas cheias de jornal velho colado naquele calor horroroso. Quer dizer, trancados mais ou menos: de dia a gente pegava a mochila estufada de jornal amassado e saía “prá aula”, lembra? Era cada dia um bairro diferente, bandeira, né? Sempre tomando muito cuidado para não ser seguido ali da saída do prédio ou na volta, zanzando pela cidade: segunda na Serra, terça no Prado, quarta Sagrada Família, quinta Floresta, quinta Planalto, sexta Vilarinho, sábado Lagoinha e depois o Bonfim e depois o Jaguarão, lembra? 40 dias esperando a porra do dia 20 de novembro, gastando estupidamente uma grana que tinha custado tanto para arrumar comendo macarrão com salsicha e batendo perna pela cidade.
E aí então foram 40 dias trancados lá dentro daquele apartamento quase vazio, com todas as janelas fechadas cheias de jornal velho colado naquele calor horroroso. Quer dizer, trancados mais ou menos: de dia a gente pegava a mochila estufada de jornal amassado e saía “prá aula”, lembra? Era cada dia um bairro diferente, bandeira, né? Sempre tomando muito cuidado para não ser seguido ali da saída do prédio ou na volta, zanzando pela cidade: segunda na Serra, terça no Prado, quarta Sagrada Família, quinta Floresta, quinta Planalto, sexta Vilarinho, sábado Lagoinha e depois o Bonfim e depois o Jaguarão, lembra? 40 dias esperando a porra do dia 20 de novembro, gastando estupidamente uma grana que tinha custado tanto para arrumar comendo macarrão com salsicha e batendo perna pela cidade.
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Eu adoraria ler. :)
sabina.anz@usp.br