Desconfie dos que falam de ética o dia inteiro. Desconfie dos charmosos que escondem viver do amor alheio. Desconfie daqueles que ignoram que sem inteligência nem sensibilidade, o caráter é caroço duro, sem polpa e casca. Desconfie dos que negam que nada dói mais do que a dor que dois amantes podem dar um ao outro. Desconfie da uva que nos ensinou o vinho que aprendemos a beber, mas desconfie também dos que se dizem livres das drogas, porque tudo nesse mundo é uma droga perigosa exceto a realidade, que é insuportável. Desconfie dos que nunca se perguntaram se a civilização de hoje é o esterco de amanhã e dos que não desconfiam do passado, a única coisa morta que não cheira mal. Desconfie dos que vivem nas encubadoras de apatia e delírio da classe média e têm medo e amam o conforto vazio e têm medo e amam o dinheiro e têm medo e odeiam o que temem. Eles não se matam por medo do que os vizinhos vão dizer. Desconfie dos que escrevem poemas como esse, cheios de imperativos. Deus ri dos nos...
Basicamente, mas não exclusivamente literatura: prosa e poesia.