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Poema meu: Mash-Up de Cyril Connolly







Desconfie dos que falam
de ética o dia inteiro.

Desconfie dos charmosos
que escondem viver
do amor alheio.

Desconfie daqueles que ignoram
que sem inteligência
nem sensibilidade,
o caráter é caroço duro,
sem polpa e casca.

Desconfie dos que negam
que nada dói mais do que a dor
que dois amantes podem dar um ao outro.

Desconfie da uva que nos ensinou
o vinho que aprendemos a beber,
mas desconfie também
dos que se dizem livres das drogas,
porque tudo nesse mundo
é uma droga perigosa
exceto a realidade,
que é insuportável.

Desconfie dos que nunca se perguntaram
se a civilização de hoje
é o esterco de amanhã
e dos que não desconfiam
do passado, a única coisa morta
que não cheira mal.

Desconfie dos que vivem
nas encubadoras de apatia e delírio
da classe média
e têm medo e amam o conforto vazio
e têm medo e amam o dinheiro
e têm medo e odeiam o que temem.

Eles não se matam
por medo do que os vizinhos
vão dizer.

Desconfie dos que escrevem poemas
como esse, cheios de imperativos.
Deus ri dos nossos planos
e nos faz promessas
antes de nos destruir.
Resta ao artista
salvar o mundo
entre duas tarefas:
levar a imaginação à ciência
e a ciência à imaginação.

Comments

Jeff said…
rapaz, cruzei com teu blog por uma serie de acasos, mas gostei muito desse poema! vou ler um pouco mais do blog agora... se quiser, apareça por aqui www.contra-ordem.blogspot.com abraçao, jeff
Obrigado, Jeff. Vou retribuir a visita!
Mariana Botelho said…
Caramba, Paulo! Gostei demais.
Obrigado, Mariana.

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