Sendo um artista e intelectual africano que por força das circunstâncias passou anos ensinando em universidades do Primeiro Mundo por muito tempo, o nigeriano Chinua Achebe escreveu com propriedade e uma justificada fúria contra o desprezo e condescendência com que sua cultura era tratada por gente que basicamente era completamente ignorante à respeito dela mas mesmo assim tinha certeza de sua inferioridade. Num ensaio ele resume em uma frase o absurdo desse comportamento parodiando o raciocínio a ele subjacente: “Show me a people’s plumbing, you say, and I can tell you their art.”
Essa é uma lição não apenas para os centros da cultura ocidental, mas também para os outros centros, aqueles que poderíamos chamar de centros da periferia. Porque às vezes um brasileiro reclama do desprezo ou condescendência de um francês mas demonstra um desprezo e condescendência igualmente absurdos por um boliviano. Ou um belohorizontino reclama do desprezo e condescendência de um paulista para depois repetir o mesmo desprezo e condescendência para com um diamantino ou montesclarense.
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Me incomoda a dificuldade até de encontrar algo diferente: muitas cidades do interior do Brasil ficaram todas iguais, com sobrados caixote e as mesmas lojas vendendo bugigangas. Quando estive em Trinidad e no Paraguay, tive a mesma impressão. Tudo ficou uma grande periferia.