O professor Marc Hauser é diretor do Laboratório de Evolução Cognitiva de Harvard, e se meteu em apuros por algo que a gente poderia chamar de “dopping acadêmico” – a própria universidade acaba de admitir que realmente a pesquisa de Hauser estava cheia de furos, digamos, “convenientes”, que levavam aos resultados que ele queria.
A ironia é que o livro mais conhecido de Hauser chama-se “Moral Minds: How Nature Designed Our Universal Sense of Right and Wrong” [pode ver a ilustração para ver que não estou inventando]. A essa ironia some-se outra: o eminente professor está de licença, trabalhando num novo livro chamado “Evilicious: Why We Evolved a Taste for Being Bad”...
Em face da farsa acadêmica no tal laboratório, os títulos dos dois livros parecem uma nova versão daquela história dos dois filhos do alcoólatra. Um deles também era alcoólatra e explicava: “também, com o pai que eu tinha…”. Enquanto isso o outro, que nunca tocava uma bebida, explicava sua abstinência dizendo, “também, com o pai que eu tinha…”
É bem apropriado que isso tenha acontecido com um aparente seguidor dessa mistura indigesta de neurociência behaviorista com evolucionismo darwinista. Essa gente vive nos jornais e revistas explicando porque os homens gostam de cortar a grama e as mulheres de pintar as unhas: tudo se explica invariavelmente nas estepes e cavernas em que nossa espécie apareceu e nosso cerébro foi circuitado. Você os encontra sempre junto com aqueles estudos médicos que indicam, por exemplo, que roer as unhas aumenta o risco de calvície ou que andar de patinete aumenta suas chances de ter filho gêmeos. Ciência hoje, diversão garantida para os nossos netos.
Esses cientistas me lembram o maravilhoso livro infantil Just So Stories de Kipling [um grande contista que não merecia ser lembrado por uma porcaria poética e ideológica chamada “White Man’s Burden” [O fardo do homem branco], poema “inspirado” pela ocupação das Filipinas pelos Estados Unidos]. Em Just So Stories Kipling escreve pequenas fábulas que explicam com graça e engenho porque os leopardos têm pintas ou porque os camelos têm corcovas.
Há 60 anos atrás a turma do professor Hauser estaria explicando porque os brancos dominam os esportes olímpicos em geral e o futebol; hoje eles devem estar dando explicações igualmente plausíveis para a predominância dos negros nos mesmos esportes.
Comments
Não sei quem são os piores: os adivinhos disfarçados de cientistas que querem entender a natureza humana injetando porcaria em ratos de laboratório, os comentaristas de futebol na televisão ou profetas do óbvio dos livros de auto-ajuda.
Triste é o processo todo de valorizar tanto detalhe como se fosse verdade.
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