IV
Então você me pergunta: Porque não votar, por exemplo, no farmacêutico do meu bairro, um sujeito que eu conheço há anos, que nunca me deu troco errado, que nunca roubou nas partidas de dominó na praça e que ainda por cima é simpático e generoso, sempre oferecendo um pirulito ao meu filho quando vamos à farmácia? Antes de responder eu digo o seguinte: pense primeiro nas questões que te interessam mais: pode ser a aposentadoria, o SUS, a pena de morte, política econômica, educação primária, educação em geral, as quotas, a união das polícias civil e militar, a CPMF, o dinheiro do pré-sal, a busca de justiça contra torturadores, a criminalidade, o aborto, as drogas, o casamento entre homossexuais, as verbas para a cultura, os direitos autorais, a censura na internet, a duplicação da rodovia federal que liga Caxangá a Nossa Senhora de Não-me-toques ou seja lá o que o que for que realmente seja importante para você. Bom, e se o nosso farmacêutico honesto achar uma ótima idéia aumentar a idade da aposentadoria para 110 anos nos homens e 115 nas mulheres? De que vale a honestidade dele se ele quer resolver o problema da violência urbana fazendo com que a polícia militar faça o policiamento de Urutu e possa portar bazucas e granadas na praia e for a favor da pena de morte para quem vender remédio sem receita? E se nenhuma das grandes idéias dele tiver a menor chance de ser sequer votada no congresso, mesmo porque ele não sabe como aquela geringonça funciona? Ou se ele não tiver a mínima idéia de como funciona o congresso e portanto não tenha a mínima de chance de fazer nada do que ele quer? Bom, são essas são as perguntas que as pessoas deveriam estar fazendo agora.
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