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Umberto Eco sobre Wikileaks

"El primer aspecto de WikiLeaks es la confirmación del hecho de que cada dossier abierto por un servicio secreto (de cualquier país) está compuesto exclusivamente de recortes de prensa. Las “extraordinarias” revelaciones americanas sobre los hábitos sexuales de Berlusconi no hacen más que informar de lo que desde hace meses se puede leer en cualquier periódico (salvo aquellos cuyo propietario es Berlusconi), y el perfil siniestramente caricaturesco de Gadafi era desde hace tiempo un tema corriente entre los artistas de cabaret.

La regla según la cual los dossiers secretos no deben contener más que noticias ya conocidas es esencial para la dinámica de los servicios secretos, y no únicamente los de este siglo. Si va usted a una librería consagrada a publicaciones esotéricas, verá que cada obra repite (sobre el Grial, el misterio de Rennes-le-Château, los Templarios o los Rosacruces) exactamente lo mismo que dicen las obras anteriores. No se trata únicamente de que el autor de textos ocultos sea reacio a embarcarse en nuevas investigaciones (o que no sepa dónde buscar información sobre lo inexistente), sino de que quienes se consagran al ocultismo sólo creen aquello que ya saben, aquello que les confirma lo que ya les habían dicho."

O texto completo está aqui.

Comments

O Marcelo Coelho, acho, escreveu algo parecido na Folha... sem comparar ao ocultismo.

Bom Ano Novo pra ti e família!
Feliz ano novo, Sabina! Marcelo Coelho é das poucas coisas que vale a pena ler na FSP hoje em dia, mesmo se a gente não concorda com ele.
Eu quando li isso me lembrei de umas comunicações escritas por Guimarães Rosa no serviço diplomático que foram publicadas em livro. A impressão que eu tive era a mesma. O cara lia os jornais da semana no país em que estava e aí escrevia seu relatório. Acho que antes da internet isso ainda fazia sentido - o conteúdo dos jornais estrangeiros não eram acessíveis como hoje em dia, mas era tudo um troço muito superficial, principalmente se a gente compara com a obra do GR. Digamos que ele fez muito bem em escolher a ficção...
Mas o Rosa era um exemplo de bom funcionário?

Lembro de uma história, sem detalhes, acho que sobre ele: um presidente assume o governo e percebe que o grande escritor tem um cargo medíocre na diplomacia. Então oferece a ele uma promoção, uma chefia. Ele recusa: não, seu presidente! Assim eu precisaria trabalhar!
Era um bom funcionário dentro da mediocridade do serviço diplomático [tomara que não tenha nenhum diplomata lendo esse comentário :)]. Isso de falar que ele era um funcionário modelo faz parte do fervor de gente que quer fazer de Guimarães Rosa um homem do outro mundo. Ele entra no serviço diplomático com ambições na carreira, mas logo percebe que, ou ele coloca todas as energias possíveis na literatura ou não vai dar para escrever como ele quer. Então Guimarães Rosa procura mesmo um emprego desimportante numa repartição do Itamaraty no Rio. Ele dá azar [e se lamenta muito em cartas disso] quando Brasil e Paraguai têm uma disputa de fronteira e ele tem que trabalhar muito, logo na hora em que a carreira dele deslanchou de vez. Eu acho que isso, as demandas com traduções e o ataque de coração é que fazem ele escrever textos cada vez mais curtos, deixando os contos de 30 páginas do Sagarana e as Novellas de cem páginas do Corpo de Baile e escrevendo contos curtinhos que aparecem primeiro no jornal.
Só esclarecendo: tudo indica que ele era um bom funcionário que cumpria com as suas obrigações com capricho e afinco. Os relatórios que eu li eram bem escritos e detalhado, mas tão superficiais como muitos desses Wikileaks. Só que ele procurou um emprego dentro da carreira diplomática que demandasse o mínimo possível.

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