Skip to main content

E agora, José? – Parte 2 ou “no hay pregunta prohibida; todo se puede preguntar”

Carmen Aristegui se manifestou sobre sua demissão, defendendo seus empregadores e recontando a história toda com direito a citações sobre Clinton, Dilma e Berlusconi:




Aproveito para observar: como é saboroso para um falante de português esse idioma nosso primo que os mexicanos manejam como ninguém. “Pulcritud”, por exemplo, é uma palavra deveras maravilhosa e expressões como “buscamos un camino sin claudicar” ou “hecho ominoso” são, para mim, deliciosas...

Bom, o fato é que Aristegui toca o dedo na ferida quando diz que o tema verdadeiro é o duopólio que impera nos meios de comunicação do México, já que sem liberdade de expressão verdadeira, não há democracia realmente plena. Aqui está a segunda parte da cacetada, com o assunto das concessões negadads ou facilitadas, “telebancadas” no congresso, candidatos pré-fabricados em estúdios de jornal e coisa e tal – mas peraí: isso é no México mesmo ou no Brasil?.

Bem, agora acaba de chegar a notícia que Aristegui voltou ao seu programa. Sabe como é, foi tudo um mal-entendido, pois é, já está tudo bem, ajustamos nosso contrato e coisa e tal.

Por incrível que pareça esse nem foi o lance mais insólito dessa carreira brilhante. Por exemplo, não faz muito tempo Miguel de la Madrid, ex-presidente mexicano, deu a Aristegui entrevista [gravada] em que dizia “na lata” acreditar na cumplicidade de Salinas de Gortari com as bandidagens do seu irmão e ainda afirmava ter se arrependido de ter escolhido esse Collor/Menen mexicano para sucedê-lo, naquela época em que um presidente mexicano ainda escolhia simplesmente o seu sucessor, no México do PRI. A repercussão foi intensa apesar do silêncio total por parte da Televisa/TV Azteca [o Plim-plim mexicano a que Aristegui se refere] e os advogados de de la Madrid apareceram com a desculpa mais esfarrapada que eu já escutei – e olhe que eu sou do país das cuecas e bíblias recheadas de dólares: o ex-presidente teria tido um súbito ataque de demência e mandava dizer que não era nada daquilo…

Puxa vida, como nos faz falta uma Aristegui no Brasil, onde desmandos semelhantes são engolidos tão serenamente…

Comments

Enquanto isso no Brasil, a gente tem que se contentar com a disputa entre Record e Rede Globo...

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...