1. New Haven aparece no noticiário da TV sobre onda de calor nos EUA! A imagem mostra a ponte sobre o Quinnipiac em Fair Haven que o locutor diz que foi fechada por causa da dilatação da estrutura de ferro! Em Curitiba aproveito um dia morno e chuvoso [compro um guarda-chuva nas Lojas Americanas no caminho para o congresso] teima em contrariar a imagem de “capital mais fria do Brasil”.
2. De novo: travar um primeiro contato com uma cidade desconhecida é resistir à tentação de ler em tudo o que acontece significados além daquela experiência banal: um vendedor bem educado vira exemplo de uma cidade cordata; um mendigo no centro demonstra indiferência com a desigualdade social; pai e filho conversando em japonês indicam uma colônia japonesa que preserva sua identidade; um engarrafamento prova de que o trânsito não é tão bem administrado; uma rua cheia de pedestres nos mostra que não se depende tanto de carro.
3. Poty Lazzarotto é uma espécie de artista plástico oficial de Curitiba, com grandes murais espalhados pela cidade. Mas falta um local onde se possa arquivar e exibir a sensacional obra do ilustrador de Guimarães Rosa e da nata da ficção brasileira [Raul Bopp, Jorge Amado, Rachel de Queiróz, Darcy Ribeiro, Euclides da Cunha, Dalton Trevisan, Valêncio Xavier]. Alguém me diz que muita gente na cidade torce o nariz para Poty – pelo caráter de artista official da cidade ou simplesmente porque “santo de casa não faz milagre”?
4. Mais tarde, num excelente sebo na rua Emiliano Perneta, encontro um único exemplar do livro de Valêncio Xavier editado pela Companhia das Letras sendo vendido a R$150. Seriam os santos de devoção da cidade ou exemplo de interesse por esses excelentes escritores que a cidade parece produzir às pencas? Brinco com alguém daqui que deve haver algo especial na água da idade de Dalton Trevisan e companhia. A pessoa me responde na lata: com esse frio e chuva e numa cidade em que nada de interessante ou importante acontece o que é que as pessoas vão fazer se não forem escrever?
5. Várias referências ao conservadorismo da cidade, vindo de pessoas diferentes: alguém até fala de um casal homossexual de professores universitários qu pensa em se mudar em vista da hostilidade dos vizinhos. Vejo na parede de um cartório uma baita foto do Papa João Paulo e, na parede do lado oposto, um crucifixo dourado. Já me vejo tentado a viajar na maionese e imaginar uns católicos poloneses prontos para escalpelar os infiéis em qualquer esquina. Mas e o curso de “Deusa do Amor”, anunciado com uma faixa na entrada da boutique de roupas eróticas?
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Um dia, se você tiver tempo e paciência, talvez te interesse o livro que escrevi com lembranças de infância.
Vou colocar um trechinho no meu blog.