Porque a pauta da imprensa se volta, na melhor das hipóteses, para barbaridades como livros sobre história que misturam o conselheiro Acácio com complexo de Mazombo? Se você não conhece Emília Viotti da Costa, não conhece o melhor do Brasil em termos de historiadores. Coloco aqui apenas um trecho de entrevista dela a Roda Viva onde ela coloca sucintamente alguns pingos nos is:
Paulo Markun: Mas, num país como o nosso, onde nós temos eleições supostamente livres, um governo eleito democraticamente, com maioria dos votos e ampla discussão na imprensa de todas as questões. Essa opção não é feita pelo eleitor que vota?
Emília Viotti: Eu tenho que contestar uma por uma das coisas que você falou. Eu tenho que contestar a noção de democracia, a noção de voto livre e consciente, e a noção de imprensa livre. Eu acho que esses são os grandes mitos do nosso tempo. Não só nosso no Brasil, mas em outros países. Fala-se em democracia. Como é que você pode falar em democracia, por exemplo, nos Estados Unidos, onde você tem uma grande parcela da população que não vota? Mas uma grande parcela da população que não comparece à eleição. O que aconteceria no Brasil se o povo não fosse obrigado a votar? O que é muito sério. Porque as pessoas não vão ter confiança na democracia e precisam votar pra saber quem escolhe. Segundo, as pessoas não são bem informadas. A imprensa não informa realmente as pessoas do que elas precisam saber. As pessoas precisam saber como os seus representantes agem. A imprensa não informa em detalhes. As pessoas precisam ser assessoradas, precisam saber em quem estão votando. Elas nunca sabem. Elas não acompanham o que as pessoas fazem no congresso, por exemplo, ou na Câmara dos Vereadores. Elas têm que ter esses dados para poder decidir. E, finalmente, era a democracia, as eleições e também o grau de informação das pessoas. A presença do dinheiro nas eleições, por exemplo. É essencial legislar-se no sentido de eliminar a influência do dinheiro nas eleições. Porque a influência do dinheiro altera o resultado das eleições. Então, enquanto não houver uma limitação da influência do dinheiro, através da imprensa ou através de outros canais, não se pode dizer que se tem uma sociedade democrática.
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