Meu pai nunca gostou muito de música popular. Ele gostava mesmo de ópera e música erudita e chegava a implicar com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Mas eu me lembro claramente a sessão conjunta em que a família se reunia em volta do toca-disco dele para ouvir o novo disco de Chico Buarque que ele tinha comprado. Assim foi até que a ditadura acabou e a trepidação de ouvir o que o Chico dizia diminuiu. Mas naquelas sessões outras lições que não tinham nada a ver com política eram aprendidas também.
Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia,
que pertence a menos gente
mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia
foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.
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