Skip to main content

Diário da Família - Samuel, meu filho



Não é questão de ter ou ter filhos, nem de ter orgulho ou vergonha deles, mas de saber ver e ouvir uma criança tentando chegar lá onde eles vivem, num mundo ao mesmo tempo menor e maior que o dos adultos. É um presente tentar ver e ouvir uma criança desde o mundo delas, algo que estaria acessível a qualquer um a princípio. Aí está o desenho que meu Samuel fez da última foto dele com o avô, horas antes da gente fazer uma atribulada viagem de volta a New Haven no fim de agosto do ano passado para comprovar. Ironia das ironias: meu filho, suave, silencioso, denso, tem sido um dos meus maiores consolos nesses dias negros de luto.

Comments

Daniel said…
meus sentimentos...


ps: a imagem mental que tenho do seu filho é dele, ainda pequeno, cantando baby beluga
Obrigado, Daniel. Ele já é um menino de dez anos, lindo lindo.
Pedro da Luz said…
Lindo, grande homenagem a papai. Valeu Samuel, bjs Pedro
José Roberto said…
Caro Paulo,

Lembro bem de seu pai e sua farta barba branca na casa da Pampulha, sempre rodeado por leituras ou pela música clássica. Na minha adolescência, sempre representou a imagem de um homem culto e estudioso. Fiquei emocionado em conhecer o Samuel e ver novamente o seu pai.
Um forte abraço,
José Roberto
Juliana Furlani said…
Querido Paulo, meus sentimentos. Grande abraço, meu amigo.
Obrigado a todos os amigos. O mais difícil mesmo é estar longe e não poder ter estado presente para as despedidas. Daí essa minha tentativa meio forçada de velar meu pai depois do fato consumado.
Anonymous said…
Existem momentos em que tdo que eu queria era estar longe. Mas como dizia uma professora minha - a vida é.
Mudando de pau pra cavaco: seu filho é lindo e sabe que tem sardas.
Beijos,
Tata.
Anonymous said…
This comment has been removed by the author.
Obrigado, Tata, ele é lindo mesmo!

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...