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Recordar é viver: Comemorando 50 anos do sonho

1. Martin Luther King era um pastor evangélico. Religião, seja qual for, e justiça social não são inimigos. Religião e inteligência não são inimigos.
2. A marcha de cinquenta anos atrás foi importante como momento simbólico da luta pelos direitos civis dos negros nos EUA e marcou o brilhantismo de MLK como orador, mas ficou muito longe das várias marchas e protestos feitos em um ambiente hostil no Alabama. Foi lá que MLK tornou-se o líder respeitado do movimento, forçando sua aceitação contra posições mais moderadas e gradualistas dentro do movimento negro.
3. 50 anos depois o presidente é negro, mas o poder simbólico tem limites muito nítidos. Não quero nem falar em prisões nem dar muitas estatísticas abstratas. Eu moro num bairro excelente cujas casas valem a metade de outro bairro também excelente porque no meu bairro excelente pelo menos a metade das casas são de famílias afro-americanas. Não posso me queixar porque pude comprar a casa que comprei graças a isso, mas o corretor de imóveis resistiu bastante a nos trazer para ver casas aqui no bairro. 75% da cidade é de latinos ou negros e 50% da cidade vive abaixo da linha da pobreza. Já vi a polícia parar dezenas e dezenas de carros em Connecticut e mais de 80% deles eram dirigidos por motoristas negros. Já sugeriram à minha esposa que se auto-intitulasse italiana ao invés de brasileira - ela tem o passaportemas não fala italiano e nunca morou por lá.
4. MLK era um gênio político porque soube usar os poderosos mitos nacionais dos Estados Unidos que se imagina como uma república democrática perfeita para articular um discurso poderosíssimo de convencimento. Já está na hora de alguém fazer a mesma coisa com a ideia de uma harmoniosa democracia racial no Brasil... 

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