Um dos textos mais marcantes que eu encontrei na internet foi a série de twits do escritor Teju Cole reproduzida na revista The Atlantic chamado "O Complexo Industrial do Branco-Salvador," feito em
reação à campanha StopKony. Resolvi traduzi-lo inspirado por um comentário recente que escutei sobre as virtudes da "boa-vontade", que eu considero a argamassa com que se assentam as pedras das boas intenções que levam diretinho ao inferno. Acompanha o original para quem lê em inglês:
O Complexo Industrial do Branco-Salvador
Teju Cole, Mar
21 2012
Se vamos interferir com a vida dos outros, um pouco de
escrúpulo é o requerimento mínimo.
Faz uma semana e meia eu assisti ao video Kony2012. Escrevi
na sequência uma resposta breve dividida em sete partes, que postei em
sequência na minha conta do Twitter
1.
De Sachs a Kristof ao Invisible Children ao TED, o ramo
da indústria que mais cresce nos Estados Unidos é o Complexo Industrial do Branco-Salvador.
2.
O Branco-Salvador apóia políticas brutais de
manhã, patrocina caridades à tarde e recebe prêmios à noite.
3.
A banalidade do mal se transmuta na banalidade do sentimentalismo.
O mundo inteiro não passa de um problema a ser resolvido pelo entusiasmo.
4.
Esse mundo existe para satisfazer às necessidades –
incluindo, é importante, as necessidades sentimentais – dos brancos e da Oprah.
5.
O Complexo Industrial do Branco-Salvador não tem
nada a ver com justiça. Trata-se de prover uma grande experiência emocional que
valide o privilégio.
6.
Preocupe-se febrilmente com aquele terrível chefe de
facção armada africano. Mas perto de 1.5 milhão de Iraquianos morreram por
causa da guerra de ocasião dos Americanos. Preocupe-se com isso.
7.
Eu tenho um profundo respeito pelo sentimentalismo americano
da maneira como alguém respeita um rinoceronte ferido. Melhor ficar de olho
nele, por que você sabe como ele é letal.
The White-Savior Industrial Complex
Teju Cole, Mar
21 2012
If we are going to interfere in the lives
of others, a little due diligence is a minimum requirement.
A week and a half ago, I watched the Kony2012 video. Afterward, I wrote a brief
seven-part response, which I posted in sequence on my Twitter account:
1- From
Sachs to Kristof to Invisible Children to TED, the fastest growth industry in
the US is the White Savior Industrial Complex.
2- The
white savior supports brutal policies in the morning, founds charities in the
afternoon, and receives awards in the evening.
3- The
banality of evil transmutes into the banality of sentimentality. The world is
nothing but a problem to be solved by enthusiasm.
4- This
world exists simply to satisfy the needs—including, importantly, the
sentimental needs—of white people and Oprah.
5- The
White Savior Industrial Complex is not about justice. It is about having a big
emotional experience that validates privilege.
6- Feverish
worry over that awful African warlord. But close to 1.5 million Iraqis died
from an American war of choice. Worry about that.
7- I deeply
respect American sentimentality, the way one respects a wounded hippo. You must
keep an eye on it, for you know it is deadly.
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