O Carlos Marques quer te ver dançar |
Vamos ler Marx e ele nos
põe sempre para dançar entre o significado das coisas em si e o significado
dessas mesmas coisas quando elas caem no mundo, interagindo umas com as outras.
Esses dois significados nunca coincidem mas não são totalmente diferentes. O
tango que os dois significados dançam é em si um todo instável, movente, sujeito
a chuvas e trovoadas constantes, em mutação perene.
Fazem parte dessa
coreografia complexa, por exemplo, três conceitos: o valor [o hieroglifo social
das coisas, que se manifesta apenas nas relações social entre mercadorias], o valor
de uso [definido pela utilidade das coisas, pelo que essas coisas podem fazer
quando caem no mundo] e ainda o valor de troca. Olha esse trechinho [sinto
muito, em inglês, mas não deve ser difícil achar em português]:
Could commodities speak,
they would say: our use-value may be a thing that interests men. It is no part
of us as objects. What, in fact, does belong to us as objects is our
value. Our natural intercourse as commodities proves it. In the eyes of
each other we are nothing but exchange-values.
Penso no que se espera hoje
da prosa de um economista ou sociólogo ou filósofo e não consigo deixar de
pensar que o movimento geral no sentido da profissionalização e especialização
das disciplinas acadêmicas foi um tremendo atraso. Nos seus piores momentos a
profissionalização é um eufemismo para regimentação e a especialização para
estreiteza. Em geral, mesmo em textos interessantíssimos, as duas coisas
fizeram da prosa não ficcional uma maçaroca difícil de digerir, uma espécie de
tortura voluntária. Explico que isso não tem nada que ver com um elogio da
“facilidade” – Marx é uma leitura difícil – mas com o simples fato de que a
complexidade não precisa ser impressa num pacote indigesto de palavras emboladas
numa prosa triste e feia.
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