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Orson Welles era um mestre do rádio, tanto quanto do cinema ou do teatro. O seu programa acabou sendo cancelado logo depois desse programa e Orson Welles, mais uma vez, perdeu seu emprego. Após uma investigação conduzida pelo governo federal, os policiais envolvidos foram a julgamento mas considerados inocentes por um júri composto exclusivamente por brancos.
No dia 12 de fevereiro de 1946, portanto há setenta anos, Isaac
Woodard Jr., horas depois de deixar oficialmente o exército americano que ele
servira durante a segunda guerra, ainda vestido com o seu uniforme, foi denunciado
à polícia por um motorista de ônibus que discutira com Woodard por não querer
permitir que ele fosse ao banheiro durante uma parada. Espancado brutalmente
por um grupo de policiais e depois jogado numa cela de delegacia sem receber
qualquer tratamento após ser atingido várias vezes nos olhos com socos e
cassetetes, Woodard perdeu a visão permanentemente.
No dia 28 de julho de 1946 Orson Welles se sentou na cabine
do rádio para mais um episódio ao vivo do seu programa “Orson Welles
Commentaries” e o tema era o que havia acontecido poucos meses antes com
Woodard:
Orson Welles era um mestre do rádio, tanto quanto do cinema ou do teatro. O seu programa acabou sendo cancelado logo depois desse programa e Orson Welles, mais uma vez, perdeu seu emprego. Após uma investigação conduzida pelo governo federal, os policiais envolvidos foram a julgamento mas considerados inocentes por um júri composto exclusivamente por brancos.
Alguns anos se passaram. Nos anos 50 a aparição dois soldados negros no seriado
cômico “The Phil Silvers Show” ainda seria considerado polêmica e causaria protestos em certas emissoras locais que se
sentiam “ofendidas” pela presença dos dois soldados negros. Um dos atores negros no seriado era P. Jay Sidney. Sidney trabalhou
por décadas na televisão e no cinema nos Estados Unidos construindo, em suas próprias palavras, “a whole
goddamned career of ‘Yassuh, can I git ya another drink, sir?”
Enquanto isso, Sidney protestava vigorosamente contra a falta de oportunidades para atores
negros na televisão. Um colega de ativismo se lembra que, quando Sidney
não conseguia a atenção da imprensa para um protesto, ele pedia para uma colega
ligar para a polícia e dizer “Tem um criolão lá fora com uma faca na mão!” Infalivelmente
em poucos minutos chegavam os policiais e a imprensa logo atrás. É uma amarga
ironia que o último papel de Sidney foi uma ponta como carregador de malas negro num
filme chamado “A Kiss Before Dying” estrelado por Matt Dylon e Sean Young.
70 anos se passaram desde o covarde e gratuito espancamento que arrancou os olhos de Woodard e o
protesto de Welles. 20 anos se passaram desde a morte de P. Jay Sydney e quase 30 anos desde o seu último papel como camareiro/garçom/mordomo/vigia. Os Estados
Unidos elegeram duas vezes consecutivas um presidente negro. A televisão nos Estados Unidos hoje têm diversos interessantes
programas não apenas com personagens mas com protagonistas negros,
homens e mulheres.
Mesmo assim, de tempos em tempos, a tragédia de Issac Woodard Jr. se renova, e, de tempos em tempos, a imagem negativa dos negros como cidadãos de segunda classe, como seres humanos de segunda classe, essa coisa que P. Jay Sidney descreveu “como o ar que respiramos e por isso difícil de reconhecer” intoxica o ambiente de maneira sufocante.
Mesmo assim, de tempos em tempos, a tragédia de Issac Woodard Jr. se renova, e, de tempos em tempos, a imagem negativa dos negros como cidadãos de segunda classe, como seres humanos de segunda classe, essa coisa que P. Jay Sidney descreveu “como o ar que respiramos e por isso difícil de reconhecer” intoxica o ambiente de maneira sufocante.
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