... Otilina sempre adorara ao seu filho como um santo ou herói que salvara a família do abismo abominável da pobreza e da vergonha. Com os olhos marejados e a voz embargada, ela, até bem pouco tempo, não perdia a oportunidade de fazer o mesmo discurso, longo e constrangedor, em que Eduardo e ela, Otilina, figuravam como mártires: “Criei e eduquei meus dois filhos, o Eduardo e a irmã, sozinha. E agüentei tudo, sempre sozinha, sem a ajuda de ninguém. Agüentei meus próprios pais me olhando com um olhar superior e condescendente, querendo decidir o nosso futuro todo sem sequer me consultar. Agüentei todos os falsos amigos, cochichando e rindo pelas minhas costas, fazendo pelas minhas costas comentários falsamente chocados, cheios de inveja e prazer, sobre a nossa desgraça. Ficamos os três sozinhos no mundo depois do desastre. O bom de cair assim, como nós caímos, de uma vez, de repente, é que assim a gente descobre o valor de cada um e descobre que quase ninguém vale nada nesse mundo e apr...