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Eleições e ilusões primárias

Nessas manifestações de entusiasmo pela campanha nas primárias americanas, acompanhada por uma certa indiferença pelas eleições municipais no Brasil, a gente vai também revelando a mesma inocência [ou será mesmo hipocrisia?] com que geralmente analisamos a vida política aqui ou lá. Vou me explicar melhor: o Brasil elegeu por duas vezes Lula com votações consagradoras [depositando nessas vitórias grandes esperanças de mudanças significativas] e, ao mesmo tempo, elegeu um congresso com clara maioria conservadora e fisiológica nas duas casas – basicamente o mesmo congresso com o qual FHC teve que governar. E depois ficamos todos decepcionados, reclamando por aí dos "conchavos" e "concessões" e "traições" ao projeto que o presidente da república representaria. Mas como governar com esse congresso sem concessões substanciais? Será que as tentativas de “cooptação” [leia-se: compra] de grupos descaradamente fisiológicos são fruto de mera vontade de perversão moral e “desejo obsessivo pelo poder”? Como seria um governo em que o PT tivesse um número de deputados no congresso proporcional aos de Lula? Esse voluntarismo grandiloqüente que imagina uma espécie de presidência imperial que resolve tudo por decreto só pode mesmo dar em amargura [hipócrita ou sincera]. E voltando aos Estados Unidos: que congresso e que judiciário vão acompanhar um hipótetico Obama presidente? Pouca gente parece disposta a reconhecer que a luta política não se restringe às eleições por cargos executivos e não acaba no dia da votação.

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