Abobrinhas a propósito da lei seca, dos cristãos novos, dos escravos que nunca vieram e dos países independentes ma non troppo
Aconteceu o que sempre acontece: primeiro, o impacto de uma lei draconiana que proíbe terminantemente qualquer motorista de beber qualquer quantidade de bebida; depois, uma fiscalização inversamente proporcional à rigidez da lei; finalmente a “surpresa” decepcionada com o aumento dos acidentes de trânsito.
Descobri essa nossa matriz profunda da nossa cultura política quando li que o rei de Portugal resolveu simplesmente acabar com a questão judaica no império através de um decreto que simplesmente convertia todo o mundo compulsoriamente. “Pronto; agora ninguém mais é judeu e acabou-se o nosso problema.”
Continuamos até hoje de decreto em decreto “resolvendo” nossas questões sumariamente “para inglês ver” [expressão aliás cunhada para descrever um exercício de ficção legal perpetrado por um império, aliás, já sumariamente brasileiro, por decreto].
Mas vá você fazer piadas com a família de alguém que morre atropelado por alguém que dirije encarando as leis de trânsito como esse mesmo cinismo hipócrita que converte à força judeus em cristãos novos, transforma colônias de fato em países independentes no papel e faz do tráfico de seres humanos uma simples farsa inconsequente.
Eu vivo em um país essencialmente puritano e sei que todo o moralismo é hipócrita, mas não precisava exagerar…
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