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Pindorama: ânimos acirrados no parnaso


Round 1: Para quem não sabe muito de poesia brasileira contemporânea pode ser um jeito interessante de se inteirar: são três blogues interessantes de poetas brasileiros que andaram trocando tapas e pontapés recentemente: no meio do furacão jaguadarte do Ricardo Aleixo e dos dois lados do tablado cantar a pele de lontra do Cláudio Daniel e Rocirda Demencock do Ricardo Domeneck.
Round 2: Como costuma acontecer em Pindorama a coisa rapidamente degenera para pancadaria e como acontece em qualquer lugar do mundo que eu conheço [aqui incluo México e EUA] é uma batalha de egos meio inflados e carteiras quase vazias, mas antes que as mesas comecem voar coisas razoavelmente interessantes foram ditas nesses blogues.
Round 3: Conheço o trabalho dos três e só o trabalho deles. E me abstenho de uma opinião pública aqui no meu cantinho público porque a essa altura "participar do debate" significa comprar a briga dos outros e também porque ninguém nem sabe quem eu sou nem nas rodas de samba poética do meu quintalzinho periférico-montanhoso de Belo Horizonte - já que passo a maior parte do ano bem longe e quando apareço fico mais em casa lendo e escrevendo.

Comments

fiquei com preguiça de ler os blogues. que coisas interessantes foram ditas?

e: por que as pessoas se inflamam tanto nessas rodas? será simplesmente para se movimentar, já que a atividade não tem relevo social, ou há interesses em premios de concurso, etc?
Na minha opinião, dois dos três escrevem boa poesia e seus blogues valem como sugestão pela poesia que aparece por lá (Te dou um doce se vc adivinhar quais são os dois...).
Eu acho que no fundo é tudo um problema de interesses que não tem quase nada a ver com literatura. Acho que a maioria das pessoas escolhem suas afinidades estéticas com base nos seus interesses práticos - não sei se sempre foi assim, talvez sim. Mesmo porque as coisas que eu não gosto não me dão raiva antes de me dar tédio...
Quer dizer: essa briga toda no fundo eu acho que é mesmo uma questão de quem ganhou a bolsa x e ganhou uma resenha boa no jornal y ou foi publicado na revista w. O que não quer dizer que são todos uns cínicos interesseiros procurando "poder" [as aspas é porque é engraçada essa idéia de poder. Acho que o último lugar que alguém que quer poder de verdade devia se meter era em literatura - eu sugeriria o mercado de ações ou a política].
Cá muito entre nós, continuar com essa retórica modernista de "o que devemos fazer para salvar a poesia da podridão que nos cerca", achando que há um caminho ou um par de caminhos válidos esteticamente a priori não me interessa nada, nada. Eu acho que a prova dos nove é o que o cara faz com o que ele acredita que deve ser feito, ou com o que vc dá conta de fazer. Só assim vc explica porque um Clint Eastwood e um Bergman podem ser bons. Passadistas e vanguardistas, urbanos ou bucólicos podem ser estéticamente igualmente ruins se são superficiais nas suas escolhas ou se simplesmente não dão conta de fazer alguma coisa que valha a pena. E esse dar conta é uma coisa muito, muito complicada; que nem biografismo, nem psicologia barata, nem arremedo de manifesto de vanguarda vai começar a explicar.
O negócio é que eu tenho um nível de energia muito baixo - coisa de gente deprimida. Então se eu me involvo num troço desse eu não consigo nem tentar fazer um monte de coisas que eu gosto e quero fazer!
bem, mesmo que seja reacinário, eu acredito parcialmente na teoria genética (tem gente explicando que algumas pessoas já "nascem" de esquerda ou direita).

eu tenho também meus ódios estético-político-existenciais. com algumas pessoas, é possível dialogar. mas bate-boca entre pessoas que não se ouvem é perda de tempo.
Também é difícil nesse ramo vc ter uma relação amistosa constante com uma pessoa cujo trabalho vc detesta: "puxa, fulano, tudo o que vc escreve é uma porcaria mas vc é uma pessoa muito simpática..."
O que é bem diferente de qualquer maneira de "olha, fulano, eu detesto tudo do seu trabalho pq vc ganhou aquela bendita bolsa que eu queria tanto..."
bem, eu já ouvi alguém dizendo algo próximo a "eu odeio o que ele escreve porque ele nasceu rico".

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