Em 1991 eu me casei com 22 anos e comecei dolorosa e lentamente a me libertar de amarras e maldições próprias da minha família. De quebra enfrentei em 1991 duas crises pessoais terríveis: o fim de uma banda a qual tinha me dedicado corpo e alma durante quase quatro anos – era também o fim dos meus sonhos de ser músico – e o fim de um longo curso de arquitetura que eu tinha enrolado despudoradamente por cinco anos. Desses anos todos de dedicação e enrolação eu só ganhei mesmo experiência: nem um CDzinho furreca pra contar história de “Os Feios e Eu” e nem um diplomazinho furreca que me livrasse pelo menos de ser preso em cela comum. Foram mudanças dolorosas mas necessárias: o duro reconhecimento de que os primeiros anos da minha vida adulta não tinham servido para quase nada e que era preciso levantar e caminhar em outras direções. Em 1991, talvez por causa disso tudo, mais uma onda de depressão, então ainda não diagnosticada, me comia por dentro.
Vinte anos depois me parece quase um milagre que eu tenha sobrevivido a tudo isso. Principalmente em vista da quase completa falta de visão que eu tinha de quase tudo isso. Nenhuma dessas mudanças decisivas nem a minha miraculosa sobrevivência teriam sido possíveis se não fosse pela pessoa com quem eu me casei, com quem vivo intensamente até hoje. Digamos que nos salvamos juntos: ela engavetou um diploma e começou a lutar com seus próprios fantasmas também em 1991. Nós dois tínhamos um colchão, um apartamento onde passamos hoje os invernos em Belo Horizonte e muita vontade de dar certo. Aprendemos nesses vinte anos um com o outro e apesar do outro e somos pessoas bem melhores do que éramos em 1991 – ainda bem!
Comments
parabéns pelos 20 anos, por terem sobrevivido (e tão bem) e por serem as pessoas bacanas que são, com direito a duas outars pessoinhas.
Foi um prazer enorme reencontrá-los,
Fernando