1. O Padre Vieira descreve a escada de Jacó como uma construção espantosa, que descia de Deus a nós uma descida infinita e subia da terra ao céu uma subida sabidamente mais curta. E descreve ainda Jacó, atônito e assombrado, “ver” juntarem-se esses dois extremos obviamente incompatíveis da tal escada no Verbo encarnado. Uma harmonia espantosa porque impossível de compreender pelo entendimento humano, ainda mais espantosa num mundo de extremos incompatíveis onde o teimoso Lúcifer quer subir uma distância infinitiva e ser Deus e Deus, de repente, desconcerta seu adversário decidindo descer a escada e virar homem.
“Duas coisas viu Jacó no que viu, que muito e com muita razão lhe assombraram, não a vista, senão o entendimento. E quais foram? (…) E vendo unir dois extremos infinitamente distantes, quem, ainda estando muito em si, não ficaria atônito e assombrado?”
2. “su costo y nuestra utilidad (…) los dos términos que hacen perfecta una fineza”
Uma fineza perfeita nas palavras de Sor Juana se define tanto pelo custo ao que faz a fineza quanto à utilidade dela para quem a recebe. A fineza perfeita corre portanto do pólo negativo – perde quem a faz – ao positivo – ganha quem a recebe. Há, no entanto, finezas imperfeitas, menores, que prescindem de um dos dois pólos.
3. Fineza mesmo para mim é a retórica de Sor Juana e do Padre Vieira. A força desse tipo de construção retórica não vem exclusivamente da agudeza ou da utilidade da interpretação do mundo, mas da beleza estética da frase, da simétrica tensionada entre opostos. Quase tanto faz se você aceita ou não uma das duas visões sobre as finezas de Cristo; vale por si a beleza da língua torneada com apuro de virtuose da prosa.
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