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Recordar é viver: o tamanho do nosso atraso

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Esse é um retrato montado a partir da leitura de trechos do livro Anos de Capanema [online aqui] em busca do DNA político um certo sociólogo francês articulador das teses do Dualismo]

1. Em 1939 o Brasil tinha 629 estabelecimentos de ensino. 530 particulares e 99 públicos, dos quais 43 no estado de São Paulo.

2. Foram fechadas mais de 700 escolas que ensinavam seus alunos em línguas estrangeiras naqueles anos de febre nacionalista - os alemães e os japoneses eram os mais prejudicados.

3. O ensino secundário era pensado como algo feito apenas para formar as elites do país, dando aos jovens mancebos “uma formação moral e ética, consubstanciada na crença em Deus, na religião, na família e na pátria” (209).

4. E frente ao problema de um largo contingente de crianças de 11 anos, que não conseguiam entrar na escola do ensino médio mas ainda não podiam trabalhar, a ilustrada FIESP propunha ao governo reduzir para 11 o limite de 14 anos para o trabalho legal.

5. Enquanto isso a Universidade do Distrito Federal idealizada por Anísio Teixeira em 1935 era impiedosamente bombardeada por Alceu Amoroso Lima que reclamava de diretores de faculdades “que não escondem suas idéias e pragação comunistas” (227). Os professores? Jorge de Lima, Sérgio Buarque de Holanda, Mário de Andrade, Villa-Lobos, Portinari, entre outros.  Em 1937 Capanema entrega a reitoria da UDF para…. Alceu Amoroso Lima! E segue-se a extinção em 1938, sem dó nem piedade. Mais de 500 alunos e 50 professores no olho da rua sem choro nem vela.

6. O núcleo do projeto do governo federal para o ensino superior era a formação da Universidade do Brasil [hoje UFRJ] a partir de um ajuntamento de escolas de ensino superior que atendia desde 1920 pelo nome de Universidade do Rio de Janeiro. A Universidade do Brasil devia “fixar o padrão do ensino superior em todo o país” (223). O time de professores franceses contratados para dar corpo ao projeto é vetado cuidadosamente por ninguém menos que… Alceu Amoroso Lima! São “professores habituados à pesquisa e de estudos bem orientados, mas ligados à Igreja” (232).

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