Vivo há 6 anos nos EUA dando aulas na universidade e tendo contato com alunos americanos, mas as perplexidades mútuas e os estranhamentos continuam. Aqui vão alguns:
1. Tenho uma dose muito grande de ironia para com a seriedade que eu tinha com relação ao futebol porque vejo meus alunos envolvidos em longas discussões sobre baseball e futebol americano e elas me parecem completamente absurdas. Tenho certeza que as horas e horas gastas com conversas sobre técnicos e gols e esquemas táticos de futebol são tão absurdas quanto aos olhos e ouvidos de alguém vê o futebol com o mesmo olhar que eu tenho para o Badmington;
2. Meus alunos simplesmente não conseguem entender a obsessão dos brasileiros, ainda mais dos brasileiros adultos, com a Disney. Suponho que para eles é como se todo estrangeiro adulto que fosse ao Brasil e passasse uma semana no Parque da Turma da Mônica;
3. Meus alunos, em geral, não vêem grandes diferenças entre as novelas brasileiras e as novelas mexicanas - talvez um pouco mais de sexo. Depois de anos sem assistir, também não vejo mais grandes diferenças;
4. Em termos de cinema meus alunos chegam à minha aula, em geral, sem conhecer mais que, no máximo, Cidade de Deus, Tropa de Elite e Central do Brasil;
5. Meus alunos em geral gostam muito de Tupac e de Beyoncé - muitos deles nem sabe quem é, por exemplo, Cole Porter;
6. Meus alunos têm uma tendência a pensar no sistema de identificação racial brasileiro como "diferente" quando na realidade é o sistema americano que é bem diferente;
7. Meus alunos ficam surpresos quando eu digo que nos últimos 20 anos o presidente brasileiro nunca teve mais que 30% do congresso formado por membros do seu partido;
8. O intenso entusiasmo coletivo com o Carnaval é tão aleatório quanto o do 4 de julho;
9. Os americanos assistem sentados a concertos que no Brasil rapidamente teriam se transformado em uma grande festa dançante;
10. Os americanos tendem a aplaudir sentados a espetáculos que os brasileiros, imagino, aplaudiriam de pé pedindo bis;
11. Eu gosto muito de viver aqui, mas não tenho qualquer pretensão de me integrar à vida americana além do [pouco] que já fiz. Isso não me frustra, nem me alegra.
12. Assisto a tudo aqui [política, debates culturais, polêmicas] "de fora" e, em muitos casos, não assisto, me recuso a acompanhar certas notícias que me parecem fúteis, uma pauta ditada pela mídia que eu não quero seguir por não sentir qualquer tipo de urgência;
13. Não assistir ao JN é não ter que seguir pauta nenhuma no seu nível mais tosco, mas a pauta segue sendo dada, em qualquer lugar.
1. Tenho uma dose muito grande de ironia para com a seriedade que eu tinha com relação ao futebol porque vejo meus alunos envolvidos em longas discussões sobre baseball e futebol americano e elas me parecem completamente absurdas. Tenho certeza que as horas e horas gastas com conversas sobre técnicos e gols e esquemas táticos de futebol são tão absurdas quanto aos olhos e ouvidos de alguém vê o futebol com o mesmo olhar que eu tenho para o Badmington;
2. Meus alunos simplesmente não conseguem entender a obsessão dos brasileiros, ainda mais dos brasileiros adultos, com a Disney. Suponho que para eles é como se todo estrangeiro adulto que fosse ao Brasil e passasse uma semana no Parque da Turma da Mônica;
3. Meus alunos, em geral, não vêem grandes diferenças entre as novelas brasileiras e as novelas mexicanas - talvez um pouco mais de sexo. Depois de anos sem assistir, também não vejo mais grandes diferenças;
4. Em termos de cinema meus alunos chegam à minha aula, em geral, sem conhecer mais que, no máximo, Cidade de Deus, Tropa de Elite e Central do Brasil;
5. Meus alunos em geral gostam muito de Tupac e de Beyoncé - muitos deles nem sabe quem é, por exemplo, Cole Porter;
6. Meus alunos têm uma tendência a pensar no sistema de identificação racial brasileiro como "diferente" quando na realidade é o sistema americano que é bem diferente;
7. Meus alunos ficam surpresos quando eu digo que nos últimos 20 anos o presidente brasileiro nunca teve mais que 30% do congresso formado por membros do seu partido;
8. O intenso entusiasmo coletivo com o Carnaval é tão aleatório quanto o do 4 de julho;
9. Os americanos assistem sentados a concertos que no Brasil rapidamente teriam se transformado em uma grande festa dançante;
10. Os americanos tendem a aplaudir sentados a espetáculos que os brasileiros, imagino, aplaudiriam de pé pedindo bis;
11. Eu gosto muito de viver aqui, mas não tenho qualquer pretensão de me integrar à vida americana além do [pouco] que já fiz. Isso não me frustra, nem me alegra.
12. Assisto a tudo aqui [política, debates culturais, polêmicas] "de fora" e, em muitos casos, não assisto, me recuso a acompanhar certas notícias que me parecem fúteis, uma pauta ditada pela mídia que eu não quero seguir por não sentir qualquer tipo de urgência;
13. Não assistir ao JN é não ter que seguir pauta nenhuma no seu nível mais tosco, mas a pauta segue sendo dada, em qualquer lugar.
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